O estudo dos seres vivos pré-históricos é uma caixinha de surpresas. Em 2002, cientistas do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, localizado no bairro de Peirópolis, em Uberaba, Minas Gerais, encontraram um osso de titanossauro em uma rocha. Porém, durante análise feita em laboratório, não foram os vestígios de um dos maiores dinossauros do Brasil o que chamou a atenção dos pesquisadores, mas, sim, algo bem menor: um fóssil de uma rã, com cerca de sete centímetros de comprimento e aproximadamente 70 milhões de anos de idade, também presente na rocha.
Como em paleontologia – ciência que estuda dos seres vivos que habitaram a Terra há milhões de anos – tamanho não é documento, os cientistas logo perceberam a importância da descoberta. Tratava-se do terceiro fóssil de anfíbio do período Cretáceo – que vai de 145 a 65 milhões de anos atrás – já encontrado no Brasil.
Mas não é que o fóssil teve que esperar cinco anos para ser estudado? Tudo porque o coordenador geral do Centro Paleontológico Price e Museu dos Dinossauros, Luiz Carlos Borges Ribeiro, precisava conseguir a parceira ideal para estudá-lo profundamente. Essa pessoa veio do Museu Argentino de Ciências Naturais. Seu nome: Ana Maria Baez, uma especialista em anfíbios.
As primeiras observações feitas pelos pesquisadores os levaram a acreditar que o fóssil de rã era mais um exemplar da espécie Baurubatrachus pricei , descoberta também em Peirópolis e descrita em 1989. Entretanto, um olhar mais cuidadoso revelou características únicas no crânio e nas vértebras. Os traços inéditos posicionam a rã, então, apenas no amplo grupo dos Neobatrachus , do qual descende a grande maioria das espécies de sapos e rãs de hoje em dia. Ou seja: se a descoberta for confirmada pela comunidade científica internacional, será preciso criar um novo gênero e uma nova espécie para classificar a rã, que poderá ser reconhecida como uma possível tatatatataravó das rãs atuais.
A pequena e delicada ossada desse animal tem ossos milimétricos e articulados, com quase metade do esqueleto preservado. Isso indica que quase não houve movimentação depois da morte da rã e que, provavelmente, ela, assim como os paleontólogos, foi pega de surpresa. “Há 70 milhões de anos, o clima na região de Uberaba era muito árido, com temperaturas que poderiam atingir até cinqüenta graus centígrados. A vegetação era rasteira e se limitava às proximidades dos rios e lagos e as rochas ficavam expostas na superfície, assim como os ossos dos animais mortos. As chuvas eram raras, mas quando chovia eram verdadeiros temporais. Assim sendo, as águas da chuva carregadas de lama podem ter arrastado os ossos dos animais mortos para os lagos e rios, prendendo a rã no fundo e causando a sua morte”, sugere Luiz Carlos Borges Ribeiro.
Não se sabe ainda ao certo que tipo de informações o estudo mais detalhado do fóssil pode trazer para os cientistas. Mas, com tantas surpresas, essa pode ser uma ótima oportunidade para a ciência entender um pouco mais sobre os mistérios do fim do cretáceo, quando cerca de 70 em cada 100 espécies de seres vivos da Terra foram extintos, inclusive os dinossauros.