Um mundo nas cavernas

O Brasil tem muitas cavernas, a maioria localizada em Goiás, na Bahia e em Minas Gerais, regiões que há cerca de 600 milhões de anos eram cobertas por um mar raso. Há vários tipos de cavernas formadas a partir de rochas calcárias, pois o mar que cobria o interior do Brasil era cheio de sedimentos ricos em cálcio. Com o passar dos séculos, o mar sumiu e os sedimentos, que tinham se depositado e endurecido no fundo, se transformaram em rochas, sobretudo calcárias.

Interior da Toca da Boa Vista (BA), a maior caverna brasileira

Aos poucos, a lenta movimentação da Terra provocou pequenas rachaduras nas rochas. Como a água da chuva se torna ácida ao passar pela atmosfera e pelo solo, ela penetrou nas rachaduras, dissolveu a rocha e produziu buracos cada vez mais largos e fundos, formando salões, túneis e abismos.

Esses espaços, que levaram milênios para serem escavados pela chuva nas rochas, formaram as cavernas. A água da chuva também esculpiu, dentro das grutas, belos e curiosos cristais conhecidos como estalactites — quando caem do teto como cortinas — ou estalagmites — quando crescem a partir do chão.

A ciência que estuda as cavernas é a espeleologia. No Brasil, a maior caverna de que se tem notícia é a Toca da Boa Vista, na Bahia. Estudos já mapearam nela 36 quilômetros de galerias labirínticas, o que a coloca na lista das 40 maiores do mundo! Mas falta ainda explorar centenas de galerias, que devem colocar a Toca da Boa Vista entre as dez maiores do mundo.

Como o ambiente das cavernas é escuro e úmido, a vida lá dentro é bem diferente. Não há plantas, por exemplo. Mas bichos — como grilos, centopéias, besouros e aranhas — adoram viver lá. Alimentam-se de galhos e folhas trazidos pelas águas dos rios. Após várias gerações nas cavernas, os bichos desenvolvem antenas para facilitar a busca de alimentos no escuro. Alguns nem têm olhos e são completamente brancos, não podendo sobreviver em ambientes com luz.

O mais famoso habitante desse mundo subterrâneo é o morcego. Vive pendurado — de cabeça para baixo, é claro — no teto de salões e galerias e sai da caverna para comer frutas e insetos. Assim, a cadeia alimentar desse ambiente começa do lado de fora: o cocô dos morcegos alimenta centopéias e grilos, que são devorados pelas aranhas. Viu? A vida nas cavernas também depende das florestas e dos rios da superfície.

As cavernas podem guardar preciosidades históricas. Ossos de animais que desapareceram há uns dez mil anos — como a preguiça e o tatu gigantes e o tigre-dente-de-sabre — podem estar misturados à terra da caverna, tendo sido carregados pela água. Há ainda vestígios de homens pré-históricos, que usavam as cavernas como abrigo, morada e templo, e às vezes deixavam figuras gravadas nas paredes.

Apesar dessa riqueza, a extração de calcário para a indústria de cimento tem provocado a destruição de muitas cavernas. É preciso selecionar e preservar as mais importantes, conservando esses ambientes frágeis e interessantes que trazem tanta informação sobre o passado. Afinal, nossas cavernas constituem não só um patrimônio natural, mas também um precioso patrimônio histórico!