Uma criança acaba de ser encontrada! Mas não se trata de nenhum garoto que se perdeu da mãe dentro do supermercado, nada disso. Estamos falando de uma menina de três anos que viveu há… 3,3 milhões de anos. Seu esqueleto foi encontrado na região de Dikika, na Etiópia, um país do nordeste da África. Para dizer a verdade, nesse passado tão distante ainda nem existiam os seres humanos. O bebê recém-descoberto pertence à espécie Australopithecus afarensis , parente da nossa Homo sapiens . A ossada encontrada é a mais completa de um bebê desse gênero já descoberta por antropólogos e promete revelar algumas informações importantes sobre como era a infância dos nossos ancestrais.
Imagine um esqueleto ficar tanto tempo preservado! O pesquisador que encontrou o bebê de Dikika chama-se Zeresenay Alemgesed. Ele passou cinco anos separando os ossos da pedra onde estavam presos com muito cuidado para não danificar nenhum deles. Para isso, chegou a usar uma broca de dentista. Tanto esforço valeu a pena. O bioantropólogo Hilton Silva, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que encontrar um fóssil tão antigo e em tão bom estado foi uma sorte incrível. “Foi uma descoberta extraordinária. Encontrar uma ossada tão rara como essa é mais difícil do que acertar muitas vezes na loteria”, diz ele.
Para os cientistas, é muito importante conhecer mais sobre as espécies que, ao longo dos milênios, deram origem à humanidade. O Australopithecus afarensis era uma espécie muito curiosa que lembra tanto os grandes macacos africanos como também os seres humanos. O bebê de Dikika mostra bem a convivência entre características desses dois gêneros. Da cintura para baixo, o A. afarensis é mais parecido com os humanos, enquanto da cintura para cima, com os grandes macacos.
Por exemplo, os ossos dos pés do bebê mostram que, diferentemente dos macacos, a criança encontrada não possuía a habilidade de agarrar objetos com os pés. Para os macacos, essa aptidão é importante, já que os filhotes, logo depois que nascem, escalam as costas das suas mães e ficam ali, agarradinhos com elas. Assim, as mães-macaco não precisam segurar seus filhos no colo, e podem procurar comida junto com o bando. O bebê Dikika não tinha os dedos dos pés projetados para agarrar o pêlo da mãe, o que significa que ele tinha que ser carregado nos braços dela, semelhante ao que acontece com os bebês humanos.
Por outro lado, os ossinhos das costas do fóssil mostram que essa espécie ainda subia em árvores. “Embora os A. afarensis fossem bípedes (andavam sobre duas pernas, como nós), eles mantinham hábitos arborícolas, ou seja, faziam algumas tarefas em cima das árvores. Por exemplo, podiam dormir à noite em cima de alguns galhos para se proteger dos leopardos – um dos seus predadores -, ou também colher frutas para se alimentar durante o dia”, conta Hilton. O rosto também é bem semelhante ao dos macacos, com a face longa e projetada para frente. Isso além do cérebro, com o tamanho mais parecido com o de um chipanzé do que com o de um humano da mesma idade.
Os cientistas estão muito animados com esse novo fóssil e com a possibilidade de conhecer mais sobre a evolução humana. E tudo isso graças a uma criança.