Tesouros a beira-mar

O molusco dono dessa concha se chama Natica canrena e vive a 60 metros de profundidade, no fundo arenoso do mar, ao longo de todo o litoral brasileiro (fotos: Paulo Eduardo Aydos Bergonci).

Já catou conchas na praia? Ficou encantado com suas cores e formas? Pois surgiu a chance de conhecer melhor essas, digamos, pérolas do litoral brasileiro. Como? Lendo o guia ilustrado As conchas de nossas praias. Recém-lançado, ele traz muitas fotos de conchas e informações sobre quem fabrica essas pequenas belezas da areia: os moluscos.

Essa concha não parece mais um chapéu esquisito? Ela pertence ao molusco Fusinus frenguelli, que vive em profundidades entre 30 e 160 metros, no litoral do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul.

Moluscos são animais de corpo mole, como as lulas, os polvos, os caracóis, as ostras e os mexilhões. Nem todo bicho desse grupo possui concha: os polvos, por exemplo, não têm, assim como o Lula Molusco, amigo do Bob Esponja, que você conhece da TV. Mas há moluscos, como as ostras, que desde muito pequenos começam a fabricá-las.

Veja bem essa concha: ela não lembra uma casquinha de sorvete colorida? O molusco dono dessa concha (Terebra taurina) vive entre 60 e 160 metros de profundidade, em quase todo o litoral brasileiro.

Animais desse tipo têm uma estrutura no corpo que produz carbonato de cálcio. Esse material se deposita em camadas, que vão endurecendo e formando as conchas. Os moluscos, então, passam a proteger seu corpo, muito mole, dentro delas. Mas não fique pensando que eles podem sair para dar uma voltinha mais à vontade: seus corpos ficam ligados às conchas por músculos que, se cortados, levam à morte do animal.

Os objetos acima parecem dentes de um animal, mas são conchas do molusco Antalis disparile , que vive a 80 metros de profundidade, entre São Paulo e Amapá.

A evolução fez com que algumas espécies de moluscos não produzam mais conchas, como os polvos, ou desenvolvam conchas internas, como se fossem esqueletos, caso de algumas lulas. Mas foi também a evolução que diversificou, durante milênios, as formas e cores das conchas, que variam segundo a espécie do molusco. Como hoje já são mais de 100 mil conhecidas no mundo, você pode ter uma idéia da variedade. Só no Brasil foram encontradas mais de 15 mil espécies até o momento e olha que nosso litoral é pouco explorado!

Em perigo
Nos oceanos, os moluscos servem de alimento a muitos animais, sendo que há espécies presentes na nossa alimentação também. Os moluscos da classe bivalvia – que possuem conchas que abrem como uma dobradiça, essas conchinhas mais comuns encontradas na praia – também absorvem as impurezas da água e podem dizer aos cientistas o quanto um ambiente está poluído. Mas se você acha que, importantes desse jeito, esses animais não correm nenhum risco, está enganado. A poluição e a pesca exagerada têm diminuído o tamanho das populações de moluscos que já foram abundantes no passado.

As 100 conchas apresentadas em As conchas de nossas praias foram escolhidas tanto por suas belas cores e formas quanto por serem razoavelmente comuns nos Brasil. Junto com fotos e dados sobre elas, o guia também traz informações curiosas. Você sabia, por exemplo, que as conchas são apreciadas pelo ser humano há milhares de anos? Pois é. Muitos povos primitivos, inclusive os que viveram nas Américas, já usavam as conchas como enfeite ou em rituais. Em algumas tribos africanas, as conchas eram usadas até como uma forma de dinheiro! E na Idade Média elas eram tão populares que muitos nobres as colecionavam e as transformavam em símbolo de suas famílias.

E uma concha assim, já viu? Ela pertence ao Argonauta nodosa, molusco comum em mares de água quente em todo o mundo e figurinha fácil nas redes de pesca.

É para apresentar toda a diversidade de moluscos e conchas a jovens e crianças, além de mostrar que ela deve ser protegida, que serve o guia As conchas das nossas praias . “Não se pode preservar aquilo que não se conhece”, afirma Guacira Maria Gil, especialista em moluscos e uma das autoras do livro. “Por isso, tentamos juntar o prazer de coletar conchas na praia com o conhecimento científico sobre esses animais.”

Por falar em coletar conchas, um dos capítulos do guia ilustrado é dedicado especialmente a você que, depois de levar as conchas da praia pra casa, não sabe o que fazer com elas. Há instruções detalhadas sobre como limpar, preservar e guardar seus exemplares. Assim é possível comparar as conchas encontradas com as presentes no livro. Então, se você ama conchas, ande com o seu guia ilustrado debaixo do braço. Será que você consegue achar todas as que são apresentadas no livro?

As conchas de nossas praias
José Wilibaldo Thomé, Paulo Eduardo
Bergonci e Guacira Maria Gil
União Sul-Americana de Estudos da Biodiversidade
96 páginas. R$ 25.
Compras pelo site www.useb.com.br