Surpresas de uma caixa de espelhos

Quando os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin pisaram na Lua pela primeira vez, em 20 de julho de 1969, deixaram por lá uma pequena caixa de espelhos. Mas não foi por esquecimento! O objetivo era utilizá-la para medir com precisão a distância entre a Terra e o seu satélite natural, usando para isso a luz de um laser. Os astronautas, porém, não tinham idéia de quanta coisa seria descoberta com o aparelho, que funciona até hoje!

Esse pequeno aparelho ajuda a medir de forma mais precisa a distância entre as superfícies da Terra e da Lua (fotos: Nasa)

“Os astronautas da Apolloo 11 não imaginavam que o experimento iria durar por tanto tempo”, conta o físico Eugênio Reis, do Observatório Nacional. “Eles imaginavam que os espelhos seriam atingidos por meteoritos.” Porém, muitos anos depois, eles continuam lá, intactos. “E ainda permanecerão assim por muito tempo”, aposta Eugênio. “Por isso, os cientistas ficam criando outras possíveis aplicações para eles.”

Mas que experimento é esse? Trata-se de um conjunto de espelhos organizados de tal forma que cada raio que eles recebem é refletido na direção de onde ele veio. Esse fenômeno é conhecido como retrorrefelxão.

Você pode nunca ter ouvido falar nessa tecnologia, mas já deve ter visto na prática. “A retrorreflexão é aplicada hoje em roupas e coletes para quem trabalha em lugares pouco iluminados durante a noite”, conta Eugênio. “O equipamento reflete a luz dos faróis e lanternas e, assim, aumenta a segurança dos trabalhadores.”

De um telescópio na superfície da Terra, os pesquisadores mandam um feixe de raios laser na direção da Lua. Quando uma pequena parte deles retorna, é possível medir, pelo tempo que ela demorou, a distância que ela percorreu — uma vez que os cientistas já sabem que, em um segundo, a luz percorre aproximadamente 300 mil quilômetros.

Mas atenção: para obter a medida precisa da distância entre a Terra e a Lua, seria necessário saber exatamente onde ficam os centros desses dois corpos. Como essa posição é muito difícil de calcular, os cientistas medem a distância entre o telescópio e o aparelho deixado na Lua e depois somam ao resultado a medida aproximada dos raios (distância entre o núcleo e a superfície) da Terra e de seu satélite.

Um problema que os cientistas encontram nesse trabalho são as turbulências na atmosfera terrestre, que desviam alguns raios e fazem com que uma menor quantidade deles volte ao telescópio. Mas nada disso parece destruir a empolgação dos pesquisadores com esse tipo de experimento. Depois da Apollo 11, outras expedições levaram aparelhos parecidos à Lua e os deixaram em pontos diferentes do satélite.

Os números e letras indicam os locais onde foram deixadas as caixas de espelhos. Como os aparelhos estão distantes uns dos outros, os cientistas conseguem medir variações no movimento da Lua.

Com o passar dos anos, os cientistas perceberam que, mais interessante que a medida da distância entre a Terra e a Lua, só as variações que ocorrem nessa distância! Após comparar as medidas feitas desde a década de 70 até hoje, os pesquisadores chegaram a muitas conclusões.

Por exemplo, você sabia que a Terra vem se afastando da Lua cerca de 3,8 centímetros por ano? A culpa é do movimento das marés e da força que elas exercem sobre a Terra. Além disso, pelos movimentos que a Lua faz, os cientistas começaram a desconfiar que ela tem um núcleo líquido.

E. como se não bastassem os avanços no conhecimento sobre esse satélite tão especial, as pesquisas acabam ajudando a desenvolver novas tecnologias que podem ser aplicadas a outras coisas aqui na Terra, como o desenvolvimento de telescópios e sensores mais eficientes. Armstrong e Aldrin devem estar orgulhosos disso, não é?

Matéria publicada em 16.09.2004

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Catarina Chagas

Desde criança gosto de ler, inventar histórias e descobrir novidades. Cresci e encontrei um trabalho em que posso fazer tudo isso.

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