Saúde em quadrinhos

Primeiro, aparecem pequenas manchas no corpo. Depois, a pele fica insensível. Calor, frio, dor… Nada sentimos onde a mancha apareceu. Opa! Há algo de errado com a gente. Mas o que pode ser? Um mal de nome esquisito, causado por um ser vivo muito pequeno: a hanseníase, doença causada por uma bactéria, a Mycobacterium leprae.

Popularmente conhecida como lepra, essa moléstia é muito comum no Brasil. Mas como é envolta em lendas! Tem gente, por exemplo, que acha até hoje que ela não tem cura – uma tremenda bobagem. Por conta disso, uma bióloga decidiu falar sobre a doença de uma maneira original: usando histórias em quadrinhos.

Na capa do gibi Uma viagem fantástica com Micobac , as crianças são os donos da aventura.

O gibi Uma viagem fantástica com Micobac conta as aventuras de duas crianças que embarcam em uma viagem pelo corpo humano. Quem os acompanha nessa jornada é a própria bactéria que causa a hanseníase. Na história, ela ganha o simpático apelido de Micobac e mostra às crianças o que acontece com o organismo atacado pela doença, além de ensinar como combater e prevenir a hanseníase.

A idéia de criar uma revista em quadrinhos sobre essa moléstia partiu da bióloga e especialista em educação científica Karina Acero Cabello. Ela queria saber se, por meio de histórias em quadrinhos, é possível aumentar o conhecimento de crianças e adultos sobre a hanseníase. Karina está investigando isso em seu mestrado – uma especialização realizada depois que nos formamos na faculdade – na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Apesar de ser uma doença que afeta o ser humano há milhares de anos, as causas, os sintomas e o tratamento da hanseníase ainda não são bem conhecidos pela maior parte da população. “O Brasil apresenta um grande número de pacientes com hanseníase todos os anos: são cerca de cinqüenta mil pessoas. É uma das nações com maior número de doentes”, explica a bióloga. “A moléstia pode causar até a perda de alguma parte do corpo. No entanto, se o diagnóstico for feito logo, a pessoa fica sem seqüelas.” Daí a importância da informação sobre a moléstia, que chega às escolas pelas mãos de Karina e na forma da história em quadrinhos.

Munida de cerca de 50 gibis, a bióloga visita colégios, onde a história é lida pelos alunos e, a seguir, discutida em classe. O que as crianças sabiam sobre a doença antes e depois da leitura fica registrado. Por enquanto, Karina ainda não publicou os resultados do seu trabalho. Mas já sabe que o gibi faz sucesso: quando chega a hora de recolher as revistas, tem muita gente que não quer nem devolver. “Infelizmente, não posso deixar nenhum exemplar com as crianças. Mas vejo a carinha de pena delas porque não podem ficar com a história”, conta a pesquisadora.

Pais e professores com certeza também adorariam levar o seu exemplar para casa, já que, junto com a história, há um manual dirigido a eles, que mostra aspectos importantes da doença. Ele contém respostas às diferentes perguntas que podem surgir durante e após a leitura da história em quadrinhos.

A boa notícia, no entanto, é que, em abril, a revista vai receber uma versão definitiva: provavelmente, você vai poder encontrá-la na internet. Além disso, existe a idéia de distribuí-la em escolas, bibliotecas e durante campanhas dedicadas ao combate à hanseníase. Mas, enquanto isso não acontece, que tal sugerir uma pesquisa em sua escola sobre o tema?