Redesenhando a linha das praias

Passando um dia inteiro na praia, podemos observar o sobe-e-desce das marés. Esse acontecimento é muito familiar aos pescadores que aproveitam o melhor momento para lançar e puxar suas redes.As mudanças no nível do mar que vemos ao longo de um dia são tão suaves que temos a impressão de que os oceanos sempre estiveram onde estão hoje.

No entanto, num passeio à beira da praia há milhares de anos, teríamos que andar muito mais tempo para conseguir molhar os pés na água salgada. Só para dar um exemplo, há cerca de 15 mil anos, a costa brasileira estava a muitos quilômetros de distância da marca atual. O mar estava ’encolhido’, fazendo com que a costa tivesse muitos quilômetros a mais do que hoje.

Isso ocorreu num tempo em que o homem ainda morava em cavernas, mas já dominava o fogo e fabricava armamentos de pedra e metal. O clima da Terra esfriou tanto que as montanhas de gelo que cobrem o pólo norte e o pólo sul aumentaram muito de tamanho e espessura por causa do congelamento das águas do mar. Esse fenômeno é chamado glaciação.

A grande quantidade de água do mar congelada causou em todo o mundo a descida do nível dos oceanos. Conseqüentemente, as regiões costeiras dos continentes ficaram mais largas.

Desde que a Terra se formou, os mares e os oceanos se modificaram bastante até atingirem a forma atual. As glaciações são uma das razões dessas mudanças. Há cerca de 10 mil anos estamos atravessando um período interglacial — entre duas glaciações.

Os cientistas não ficariam admirados se agora entrássemos numa nova era glacial, ou seja, se a Terra voltasse a se resfriar. Afinal, esse é um acontecimento que ocorre de tempos em tempos e poderia estar iniciando novamente.

Mas, ao que tudo indica, o clima da Terra está esquentando por causa da poluição causada pelos homens. A fumaça — que é o resultado das queimadas das florestas e que sai da descarga dos carros, das chaminés de fábricas e indústrias — fica presa na atmosfera, esquentando-a. Esse aquecimento pode provocar um derretimento do gelo dos pólos. Nesse caso, teríamos a situação inversa: uma elevação do nível dos mares, o que poderia causar grandes transtornos para cidades à beira-mar, como Rio de Janeiro e Recife.

Muitos pesquisadores tentam explicar o que causa as glaciações. Hoje, a hipótese mais provável é de que, periodicamente, a Terra modifica um pouco sua inclinação em relação ao Sol. Isso faz com que os raios solares cheguem com menos intensidade ao nosso planeta, provocando seu resfriamento.

Durante o último período glacial, muitas praias em todo o mundo situavam-se a dezenas ou mesmo centenas de quilômetros à frente. Com o fim da última glaciação, as águas do mar voltaram a subir até atingirem o nível atual.

Em todo o mundo, existem vestígios dessas praias antigas ao longo das plataformas continentais, ou seja, das beiradas dos continentes que estão cobertas pelas águas dos mares. Nas amostras retiradas dessas plataformas, os pesquisadores encontraram areia de praia, restos de conchas e grande quantidade de seres minúsculos chamados foraminíferos. Esses pequenos organismos de nome esquisito ajudam a contar a história das modificações da nossa costa nos últimos milhares de anos.

Os foraminíferos têm formas muito variadas, semelhantes a pequenas conchas. Os que foram encontrados naquelas antigas areias de praia se parecem muito com os que vivem próximos às praias de hoje. Isso é uma prova que aquele local de águas profundas já foi realmente uma praia há milhares de anos.