Rastejantes e luminosos

Eles têm gosto ruim – pergunte aos bichos que já comeram! – e deixam um cheiro forte por onde passam. Os piolhos-de-cobra ou gongolos são artrópodes terrestres de corpo longo e com muitas pernas, semelhantes às centopeias ou lacraias. Mas sua característica mais curiosa é que alguns deles brilham no escuro, uma capacidade que os cientistas ainda estão tentando explicar.

O piolho-de-cobra da espécie (i)Xystocheir bistipita(/i) é bioluminescente e emite uma luz azul esverdeada. (foto: Paul Marek, Entomology Department, Virginia Tech)

O piolho-de-cobra da espécie (i)Xystocheir bistipita(/i) é bioluminescente e emite uma luz azul esverdeada. (foto: Paul Marek, Entomology Department, Virginia Tech)

Apesar de muitas vezes nos causarem repulsa, esses animais são importantes componentes da natureza, já que contribuem para o equilíbrio da cadeia alimentar comendo folhas em decomposição e servindo de alimento para outros bichos. A bioluminescência – ou capacidade de brilhar no escuro – é uma estratégia usada por eles para se defenderem de seus predadores, como lagartos, cobras e ratos.

Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, decidiram estudar as espécies de piolhos-de-cobra pertencentes ao gênero Motyxia, que vivem somente nas florestas do estado norte-americano da Califórnia. Os animais são observados facilmente durante a noite, ao ar livre, onde aparecem como milhares de pontinhos brilhantes no chão da floresta.

Outras espécies também podem brilhar, como o (i)Motyxia sequoiae(/i), encontrado na Califórnia, nos Estados Unidos. (foto: The National Geographic Society Expeditions Council / O. Bissell & P. Marek, Fast + Light Productions, San Francisco, CA)

Outras espécies também podem brilhar, como o (i)Motyxia sequoiae(/i), encontrado na Califórnia, nos Estados Unidos. (foto: The National Geographic Society Expeditions Council / O. Bissell & P. Marek, Fast + Light Productions, San Francisco, CA)

Os cientistas analisaram cinco espécies de Motyxia e um parente próximo em busca de pistas sobre o que gerava a bioluminescência. “Com isso, esses pesquisadores descobriram que a intensidade da luz era correlacionada ao tamanho de uma glândula específica, a glândula de cianeto, presente em todos os indivíduos do gênero”, explica o biólogo brasileiro Amazonas Chagas, da Universidade Federal do Mato Grosso.

Diferentemente dos famosos vaga-lumes, que possuem um órgão em sua cauda responsável pela emissão de luz, os gongolos brilham graças a uma substância única presente em seus corpos: uma proteína secretada pela glândula de cianeto. O resultado é uma luz de cor azul bem forte, que afasta os predadores famintos. “O brilho é um aliado desses pequenos seres”, destaca Amazonas.

Ainda não se conhece piolhos-de-cobra brasileiros que brilhem no escuro. Que pena! Quão divertido seria vê-los iluminando as florestas durante a noite!