Quem manda no coração?

Uma professora convidou a turma da CHC para conhecer seu laboratório. Quando chegamos lá, ela foi logo nos mostrando um coração batendo, tum, tum, tum, funcionando mesmo, embora já estivesse fora do corpo do animal. Parecia mágica. Ela nos explicou como é que isso acontecia, e contamos aqui o resumo dessa conversa.

O coração pode continuar funcionando fora do corpo do animal por algum tempo se mantido em condições parecidas com as normalmente existentes no interior dos organismos: uma composição química semelhante à do meio interno dos animais, uma fonte de energia adequada — que no caso do coração é principalmente a glicose –, além do oxigênio, que permite a utilização de energia por parte das células.

Mas qual é a importância de manter um coração vivo e funcionando fora do corpo do animal? Isso permite estudar o funcionamento do coração em pelo menos dois aspectos: suas funções e os mecanismos que fazem com que ele funcione normal ou anormalmente. Além disso, pode-se também estudar a ação que certas substâncias têm sobre o coração É assim que se testam a eficácia e a validade do uso de um novo medicamento no tratamento das doenças.

Repare que embora haja gente que possa pensar que é desumano sacrificar animais para fazer pesquisa científica, isso é essencial para conhecer coisas que podem contribuir para melhorar a vida tanto das pessoas quanto dos próprios animais.

A próxima pergunta é quem comanda o coração. Como ele bate ritmadamente? Como é capaz de bater fora do corpo animal, livre da ação do sistema nervoso e hormonal, que são os dois grandes controladores do funcionamento dos diversos sistemas do organismo? A resposta tem que vir por partes.

Todo mundo já ouviu falar de eletrocardiograma: viu na TV, no cinema. Médicos acompanhando eletrocardiogramas de pessoas doentes, na tela de um monitor, com bip e tudo. O eletrocardiograma ( de cardio , coração) é o registro da atividade elétrica do coração. Mas como essa atividade elétrica é produzida? Ela é gerada a partir de inversões temporárias na diferença de potencial elétrico entre o interior das células cardíacas e o meio que as circundam. No coração, que é um tipo muito particular de músculo, essa inversão funciona como um sinal para que suas células se contraiam.

O coração é capaz de continuar batendo isolado do corpo porque ele tem dentro dele um grupo de células, também musculares, que são capazes de inverter ritmicamente o potencial entre elas e o meio que as circundam. Essa inversão se espalha por todo o coração e, conseqüentemente, ele se contrai ritmicamente. Esse espalhamento da inversão de potencial elétrico através do coração pode ser captado na superfície do corpo e registrado numa tira de papel ou em um monitor. É o eletrocardiograma.

Você já sabe, então, como e para que serve um coração que bate sozinho em um laboratório de pesquisa. Sobre as funções do coração, a principal e as secundárias, a gente fala de outra vez!