Procura-se: abelha abelhuda

Quem quer brincar de detetive da natureza levanta a mão! Pode começar a treinar o olhar: observe com cuidado plantas e animais ao seu redor, e verá que há muitas espécies passeando bem debaixo do seu nariz. Confere? Pois bem. É hora de colocar seus olhos atentos em ação e participar de uma pesquisa científica que quer ajuda de cidadãos como você. Especialistas estão à procura de um tipo curioso de abelha que está a caminho do Brasil e pode causar estragos por aqui.

Atenção, atenção: espécie invasora de abelha pode chegar ao Brasil a qualquer momento. (foto: Miguel / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0)CC BY-SA 2.0(/a))

Atenção, atenção: espécie invasora de abelha pode chegar ao Brasil a qualquer momento. (foto: Miguel / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0)CC BY-SA 2.0(/a))

As mamangavas-de-cauda-branca (Bombus terrestris) têm listras em preto e laranja e uma cauda de pelos brancos – daí o nome popular desses insetos. Habitantes do continente europeu, elas foram trazidas para o Chile, na América do Sul, por serem excelentes polinizadoras, ajudando no cultivo de vegetais como tomate, berinjela e pimentões.

Apesar de úteis para alguns agricultores, as Bombus terrestris podem ser um problemão – como acontece com qualquer espécie invasora, ou seja, que vive em um ambiente diferente do seu hábitat natural. “A mamangava-de-cauda-branca compete por recursos com outras abelhas e pode transmitir doenças às abelhas e às plantas que visitam”, explica André Luis Acosta, biólogo da Universidade de São Paulo (USP).

Apesar de excelente polinizadora, a mamangava-de-cauda-branca traz riscos para espécies nativas. (foto: q_ilex / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0) CC BY-NC-ND 2.0 (/a))

Apesar de excelente polinizadora, a mamangava-de-cauda-branca traz riscos para espécies nativas. (foto: q_ilex / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0) CC BY-NC-ND 2.0 (/a))

Sem querer, essas abelhas também podem agredir as flores de algumas espécies de plantas durante a alimentação. Segundo André, quando elas não conseguem alcançar o néctar pela abertura natural da flor, abrem buracos na lateral para sugá-lo de seu interior. “Esses buracos podem gerar danos às flores, fazendo com que elas caiam antes mesmo de serem polinizadas e, portanto, não se tornem frutos”, conta. “Este tipo de ‘roubo de néctar’ pode prejudicar a reprodução em algumas espécies de plantas selvagens e também reduzir a produtividade em algumas culturas agrícolas”.

Imagem de divulgação da campanha que está monitorando a chegada da  (i)Bombus terrestris(/i) no Brasil.

Imagem de divulgação da campanha que está monitorando a chegada da
(i)Bombus terrestris(/i) no Brasil.

Segundo os cientistas, após chegar à Argentina e ao Uruguai, a espécie está a caminho do Brasil – possivelmente pelo oeste do Rio Grande do Sul. Para estudar melhor as mamangavas-de-cauda-branca e descobrir qual será o impacto causado pelas invasoras, André criou uma campanha de monitoramento da chegada da espécie ao Brasil. Ele conta com os olhares atentos da população para encontrar a danada!

A quem quer ajudar: cuidado é a primeira orientação. Tenha sempre a companhia de um adulto, claro, e mantenha uma distância segura. Nada de tentar capturar ou machucar a abelha! “Além de ser incorreto sob vários aspectos, você pode matar uma espécie nativa ou ser ferroado”, avisa o biólogo. “Além disso, somente o inseto vivo poderá prover as informações necessárias para o estudo”. Quando tiver a pista de onde encontrar a mamangava-de-cauda-branca, o pesquisador deve ir até o local para observar as abelhas vivas, em circunstâncias naturais, e verificar com que outras espécies elas interagem e como ocorre esta interação.

Se você der sorte e encontrar uma Bombus terrestris voando por aí, tire uma foto e avise aos cientistas. Você poderá ser reconhecido(a) como a primeira pessoa que encontrou a abelha invasora no Brasil, já pensou?