Preguiça nadadora

A preguiça terrícola Aetherium aureum alimentava-se de folhas e raízes (imagem cedida por Cástor Cartelle).

Você deve conhecer as preguiças, esses simpáticos animais que levam a vida bem devagar, pendurados nos galhos das árvores. Mas você sabia que alguns ancestrais desses bichos eram bem grandes e se locomoviam com bastante agilidade pela terra?

Essas preguiças antigas, conhecidas como terrícolas, já estão extintas há séculos, mas ainda há muito a ser estudado sobre elas. Um grupo de paleontólogos, por exemplo, descobriu em 2005 o esqueleto quase completo de uma preguiça terrícola no interior da Bahia, e, ao estudá-lo, notou que se tratava de uma nova espécie, descrita recentemente.

A descoberta foi feita em Poço Azul, uma gruta submersa na Chapada Diamantina, na Bahia. Facilmente encontrados no Caribe e na América do Norte, apenas pedaços de fósseis de preguiças terrícolas já haviam sido localizados no Brasil e, mesmo assim, de forma dispersa. É a primeira vez que tantos ossos de um mesmo animal desse tipo são achados aqui.

Uma cauda diferente

Os cientistas contaram com a ajuda de mergulhadores para localizar mais de 300 ossos da nova espécie de preguiça terrícola na Bahia (foto: Grifa Mixer).

A preguiça localizada no Poço Azul, e que viveu há cerca de 11 mil anos, era um adulto jovem com três metros de comprimento, que se alimentava principalmente de folhas e raízes. Segundo estimativas dos pesquisadores, o animal deveria ter cerca de 500 quilos, quase o peso de um touro.

Batizada de Aetherium aureum, a espécie não era tão grande quanto outras preguiças terrícolas da mesma época, que podiam atingir até seis metros de comprimento. Mas tinha uma particularidade: o formato diferente de sua cauda pode sugerir que ela tinha hábitos aquáticos. “A cauda lembra a das ariranhas, mamíferos parentes das lontras que habitam os rios da América do Sul”, explica Cástor Cartelle Guerra, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. “Talvez isso possa indicar que esse animal era um hábil nadador, e vivesse tanto na terra quanto na água”.

Segundo Cástor Cartelle, reunir e montar os fósseis da preguiça foi um grande desafio de lógica, já que, por ser uma espécie nunca antes estudada, não havia como compará-la a outros da mesma espécie. “Foram mais de quatro anos para reunirmos os mais de 300 ossos. Como eles estavam dispersos quando foram retirados, tornou-se necessária a ajuda de mergulhadores. Foi um grande quebra-cabeça”, explica.

Um dedo da mão da Aetherium aureum (foto: Grifa Mixer)

Na gruta, um mar de fósseis
Os paleontólogos não puderam definir a causa da morte da preguiça, mas o bom estado dos ossos permitiu identificar que ela era jovem. “Os ossos que encontramos estão em muito bom estado de preservação, mas são muito frágeis”, conta Cástor Cartelle. No Poço Azul, onde eles estavam, foram descobertos também fósseis de outras espécies, como a Eremotherium laurillardi, uma preguiça gigante; a Nothrotherium maquinense, a menor de todas as preguiças extintas, que media cerca de um metro e meio de comprimento; e mais duas outras que ainda estão sendo estudadas. Então, quem sabe vêm aí mais novidades sobre a fauna do Brasil na pré-história? É aguardar para ver!