Mayra Avellar das Neves é uma menina de 17 anos, moradora da cidade do Rio de Janeiro, que acaba de prestar vestibular para História e de ganhar… o prêmio Infantil da Paz! A premiação é iniciativa de uma organização da Holanda e é apoiada por vários ganhadores de seu ‘irmão mais velho’, o prêmio Nobel da Paz.
Mayra foi reconhecida por sua luta em favor das crianças da comunidade onde vive, a Vila Cruzeiro. Em 2007, ela organizou uma passeata com cerca de 300 crianças e adultos para pedir paz para a comunidade, que sofria com uma batalha entre policiais e traficantes que impedia as crianças de estudar e seus pais de trabalhar. “Hoje a guerra, durante o dia, diminuiu e as pessoas começaram a mudar o seu comportamento, a pensar sobre a questão”, diz a jovem.
A vontade de mudar a realidade do local onde vive também inspirou Mayra a criar um ‘cinema’ improvisado na Vila Cruzeiro. Uma vez por mês, crianças, jovens e adultos se reúnem em uma casa para assistir a filmes e depois discutir o tema apresentado. “O último filme que vimos falava sobre racismo”, conta. Segundo a jovem, a maioria dos frequentadores dos encontros tem entre 15 e 18 anos, mas há um participante de 12 anos. “Esses encontros são muito importantes, porque educação não é só saber ler e escrever. Cultura e arte também são fundamentais”, afirma Mayra. É por isso que o prêmio, no valor de 100 mil euros, o equivalente a cerca de 300 mil reais, deve ser usado, entre outras coisas, para melhorar a estrutura do local onde são exibidos os filmes.
Diversão e responsabilidade
O envolvimento de Mayra com o cinema não é só como espectadora. A jovem, que também participa de um grupo de teatro, estrelou um documentário – filme que apresenta fatos reais – sobre o cotidiano na comunidade. “No filme, eu e mais três jovens falamos sobre o dia-a-dia na Vila Cruzeiro, sobre nossos sonhos e o que fazemos para alcançá-los”, explica. A iniciativa de fazer o documentário foi da organização não governamental (ONG) IBISS, da Holanda, a mesma que indicou Mayra para receber o prêmio Infantil da Paz.
Essas atividades renderam à jovem a chance de conhecer a Europa. “Apresentamos uma peça na Holanda e, a convite de uma emissora de televisão, fui repórter por um dia em Paris, na França, junto com a vencedora do prêmio Infantil da Paz de 2007, Thandiwe Chama, uma menina da Zâmbia, país do interior da África.”
Mas, mesmo com tanta diversão, receber o prêmio envolveu muita responsabilidade. O troféu foi recebido das mãos do vencedor do Nobel da Paz, Desmond Tutu, um bispo sul-africano que lutou contra o regime do apartheid, uma série de leis que legalizavam o racismo e separavam negros e brancos na África do Sul. “Eu tremia quando fui receber o prêmio”, revela Mayra. Além disso, a jovem fez um discurso para uma platéia que incluía pessoas como Ingrid Betancourt, ex-senadora franco-colombiana que passou mais de seis anos sequestrada pelas Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC), e o cantor e ativista irlandês Bono Vox, conhecido por lutar por causas humanitárias.
O reconhecimento foi uma surpresa para Mayra. “Eu não esperava ser indicada”, diz ela. “Quando eu me engajo em uma luta não é pelo reconhecimento, é porque acredito que posso fazer alguma coisa para mudar a realidade. E acho que, se todos tomassem esse tipo de responsabilidade, conseguiríamos mudar muita coisa.”