Você aceitaria viajar pelo sul e sudeste do Brasil para procurar duas espécies de rãs que há mais de 25 anos não são encontradas pelos cientistas? Então, saiba que essa é a aventura que aguarda os biólogos Patrick Colombo e Taran Grant, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em setembro, eles vão liderar duas expedições em nosso país, que são parte de uma busca mundial por cem espécies de anfíbios que há muito tempo não são vistas na natureza e podem até estar extintas.
Procura-se!
Lanterna na mão, gravador no bolso e um par de botas de borracha confortável. É assim que estará equipado o grupo que irá buscar a rãzinha-das-pedras em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Chamada de Cycloramphus valae pelos cientistas, essa espécie costumava viver entre rochas em cachoeiras muito altas. Em locais como esse, perto dos paredões úmidos, é que a equipe espera reencontrá-la. “A estratégia é sair revirando pedras na natureza”, adianta Patrick, líder da expedição.
Amarronzada, a rãzinha camufla-se entre as rochas e se confunde com o ambiente. Como seu nome indica, é pequena: tem quatro centímetros de comprimento! E se você pensa que essas características já são suficientes para dificultar o trabalho dos pesquisadores, imagine procurar esse bicho… à noite? Pois é isso o que irá acontecer, já que a rãzinha-das-pedras, como a maioria dos anfíbios, tem hábitos noturnos.
A boa notícia, porém, é que essa busca não depende apenas da visão. Os pesquisadores vão estar atentos a qualquer barulho. Afinal, quem sabe eles não escutam o som produzido pela espécie e, ao segui-lo, reencontram a rãzinha-das-pedras? A expectativa também é gravar novamente o canto desse anfíbio, registrado pela primeira vez em 1979, no estado de Santa Catarina, quando a rãzinha-das-pedras foi descoberta. Apenas três anos depois, ela seria vista pela última vez.
Aumente o som!
Ouça o canto da rãzinha-das-pedras (gravação cedida por Ronald Heyer).
Do sul para o sudeste
Desde a década de 1980, aliás, ninguém encontra também a rãzinha-do-riacho. Essa espécie, conhecida pelos cientistas como Crossodactylus grandis, é alvo de uma outra expedição, que acontece em setembro em parte do sudeste do Brasil.
Para tentar localizá-la, o biólogo Taran Grant irá a Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Mas a tarefa é difícil. Não há foto ou desenho da espécie em vida. Seu canto também não foi gravado. E não se engane: apesar de ter a palavra “grandis” (em latim, “grande”) em seu nome, esse anfíbio mede apenas quatro centímetros.
Apesar disso, já foi definida uma estratégia para tentar achar essa rã que tem pele marrom, hábitos diurnos e vive escondida na vegetação que há na beira dos riachos da Serra da Mantiqueira, cadeia montanhosa que se estende pelos três estados que serão visitados. Taran pretende se basear no som produzido por outras espécies do mesmo gênero para tentar localizar a Crossodactylus grandis. “Vamos seguir o som de qualquer anfíbio que esteja cantando perto do riacho”, conta ele.
Quem sabe esse não é o primeiro passo para um reencontro aguardado há décadas?
Maior entre os menores
A Crossodactylus grandis foi batizada assim porque é maior do que os outros bichos do seu grupo, que atingem, no máximo, três centímetros!
Anfíbios em perigo
Apesar da esperança em reencontrar a rãzinha-das-pedras e a rãzinha-do-riacho, depois de quase três décadas sem notícias, é claro que os pesquisadores trabalham com a hipótese de que essas espécies tenham sido extintas. Ou seja, desaparecido para sempre, uma ameaça que ronda anfíbios em todo o mundo. Como os sapos e seus parentes têm a pele muito sensível, mesmo alterações muito pequenas no habitat podem afetar a sua sobrevivência. Além disso, são cada vez mais comuns casos de animais desse tipo que desenvolvem uma doença causada por fungos. Para você ter uma ideia, essa moléstia já causou a extinção de várias espécies de anfíbios pelo planeta, uma vez que provoca problemas respiratórios, entre outros. Clique na tela e conheça sapos e rãs que enfrentam ameaças como essas.