Por dentro da estrela

Alguns astrônomos passam anos observando estrelas. E existe um grupo de cientistas que gosta tanto desses astros que agora quer ver uma estrela por dentro! Formada por 30 pesquisadores de diversos locais do mundo, a equipe é coordenada pelo astrônomo brasileiro Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo (USP), e quer descobrir o que há nas entranhas da estrela Eta Carinae.

Imagem da Eta Carinae feita pelo telescópio espacial Hubble em 1995. (foto: Wikimedia Commons / Domínio Público)

Imagem da Eta Carinae feita pelo telescópio espacial Hubble em 1995. (foto: Wikimedia Commons / Domínio Público)

Localizada a 7,5 mil anos-luz da Terra, a Eta Carinae tem uma potência luminosa equivalente a cinco milhões de sóis e é quase 90 vezes mais pesada do que o astro-rei. Para entender melhor o que os cientistas pretendem descobrir sobre ela, é preciso conhecer um pouco de sua história. Tudo começou quando, no final dos anos 1980, Augusto percebeu que a Eta Carinae sofria uma espécie de apagão de tempos em tempos, quando perdia consideravelmente seu brilho, voltando ao normal em seguida.

Ninguém sabia explicar o motivo do apagão até que o astrônomo da USP propôs uma hipótese: o fenômeno acontecia porque, na verdade, não se tratava de uma única estrela, mas sim de duas. Segundo Augusto, essas estrelas ficariam bem juntinhas zanzando no espaço e, às vezes, quando estavam muito próximas, uma delas acabava escondendo a outra. Isso resultaria, portanto, em um fenômeno similar a um eclipse, ocasionando o tal apagão.

Damineli fez alguns cálculos e concluiu que, se essa teoria estivesse mesmo correta, um próximo período de redução de brilho deveria acontecer em 1997. Não deu outra: ele estava certo. Sua suspeita foi comprovada e, hoje, astrônomos falam em Eta Carinae A e Eta Carinae B.

O próximo apagão desse sistema binário de estrelas estava previsto para o final de julho deste ano. Mas, por volta de junho, os cientistas perceberam algo incomum: a Eta Carinae A estava emitindo luz de gás hélio.

A emissão de luz de gás hélio pela Eta Carinae A fez com que os cientistas desconfiassem que a Eta Carinae B passava por dentro de sua companheira. (foto: Clem Brazil / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/CC BY 2.0(/a))

A emissão de luz de gás hélio pela Eta Carinae A fez com que os cientistas desconfiassem que a Eta Carinae B passava por dentro de sua companheira. (foto: Clem Brazil / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/)CC BY 2.0(/a))

Como esse gás normalmente fica guardado no interior das estrelas, os cientistas suspeitaram que a estrela Eta Carinae B não se escondia por trás da Eta Carinae A. Na verdade, ao que tudo indica, a Eta Carinae B passa por dentro da Eta Carinae A, apagando a luz da menor e deixando a maior com um buraco – e é por esse buraco que o gás acaba escapando.

Para descobrir se isso é verdade, os astrônomos estão de olho na Eta Carinae A e terão a chance de estudar, pela primeira vez, a parte de dentro de uma estrela. “O objetivo é medir com precisão o diâmetro e a profundidade desse buraco, além de descobrir quando ele se forma e quando ele se fecha”, diz Augusto.

As futuras descobertas poderão, ainda, validar ou derrubar as atuais teorias sobre a estrutura externa das grandes estrelas. Que surpresas será que Eta Carinae ainda está guardando para nós?