Muita neve. Temperatura média de 50 graus abaixo de zero. Ventos fortes e gelados. Nesse frio todo, um biólogo e sua equipe resolveram encarar o desafio de passar um ano no sul da Antártica, onde ninguém consegue viver, a não ser uma única espécie animal: o pingüim-imperador. O que eles foram fazer lá? Um filme sobre a vida desses pingüins, que você pode conferir nos cinemas, em pleno verão tropical!
O documentário “A Marcha dos Pingüins” conta a história de um casal de pingüins da espécie Aptenodytes forsteri e suas andanças para dar à luz um filhote. Todo ano, quando os dias começam a ficar mais curtos, eles saem do mar, onde ficam nadando no verão, para caminhar rumo ao interior do continente. Eles andam desengonçados por mais de 100 quilômetros, em uma fila indiana formada por milhares de pingüins-imperadores, chegando a uma área plana cercado por montanhas. Lá, acontecem os rituais de acasalamento.
O filme é contado pelas vozes de um homem e de uma mulher, e parece que o casal de pingüins é o mesmo o tempo todo. Porém, os pingüins-imperadores, que andam em um grupo grande, são todos iguais a enfeite de geladeira! Como o diretor do filme sabia quem era quem? “Tenho quase certeza de que ele não sabia, a menos que tenha marcado com anilhas cada indivíduo”, afirma Jorge Nacinovic, especialista em aves do Museu Nacional do Rio de Janeiro, se referindo a pequenas placas de metal que são presas às asas dos pingüins para identificá-los. “Nessa espécie, é difícil distinguir até machos de fêmeas”, conta.
Verão e inverno geladinhos
Nos pólos da Terra, só se percebem duas estações do ano: verão e inverno, as duas bem frias. Cada pólo passa por seis meses de claridade e seis meses de escuridão. É como se o dia durasse seis meses e a noite, outros seis. Mas a troca da noite pelo dia não ocorre como se fosse um apagar e acender de luzes: a mudança é gradual e acontece ao longo de vários dias.
Para humanos, reconhecer cada pingüim é tarefa complicada. Mas entre si, as aves se identificam pela voz. Assim os casais de pingüins-imperadores se reproduzem, botando somente um ovo a cada ano. Um baita ovo, com 400 gramas, compatível com a dimensão desses animais quando adultos: eles chegam a ter 1,20 metro de altura e pesar 40 quilos!
Essa espécie guarda muitas curiosidades. Você sabia que o pai é quem choca o ovo enquanto a mãe vai em busca de alimento no mar para o filhote? A mãe, que embora se pareça muito com um garçom, não entrega nada de bandeja: o bebê bebe um líquido nutritivo, de peixes parcialmente digeridos, de dentro da garganta da mãe. Os filhotes então crescem para viver no mar no verão, e depois encarar também as caminhadas para a reprodução.
Os pingüins-imperadores nadam melhor do que andam, e mesmo assim passam a maior parte da vida marchando. “Os adultos buscam as condições ideais para procriar, mesmo que isso signifique sacrifícios ao longo das marchas”, explica Larissa Oliveira, bióloga que foi à Antártica para estudar mamíferos marinhos, como a foca-leopardo, predadora do pingüim-imperador no mar. Contra o frio, ao menos, essas aves estão preparadas: uma camada de gordura de três centímetros abaixo das penas as mantém aquecidas. E como reinam absolutos no sul da Antártica, devem tirar o resto de letra!
A Marcha dos Pingüins
De Luc Jacquet (França, 2004).
85 minutos. Livre.
Em cartaz nos cinemas.