Pimentas do novo mundo

Muita gente detesta pimenta! Mas muitos adoram esse tempero – no arroz, no feijão… Até mesmo alguns doces exóticos apimentados podem agradar aos paladares mais aventureiros.

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Pimentas do continente americano eram muito apreciadas entre os navegadores portugueses (Foto: Basilius Besler, 1561-1629, (i)Hortus Eystettensis(/i), Eichstatt)

E veja que interessante: historiadores acabaram de descobrir que os navegantes portugueses do século 16, quando aportavam aqui nas Américas, não estavam interessados apenas em pau-brasil, papagaios ou animais silvestres. Eles também tinham muito interesse em negociar as pimentas nativas de nosso país – que já eram conhecidas e apreciadas pelos povos indígenas.

Essa novidade foi descoberta recentemente pelos historiadores Christian Fausto, Fabiano Bracht e Gisele da Conceição, da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná. “As pimentas não tinham tanto valor mercantil, mas eram muito importantes para garantir a sobrevivência dos marujos em alto mar”, conta Christian.

Naquela época, era muito comum que navegantes fossem acometidos pelo escorbuto – uma doença que, pela falta de vitamina C, ataca os lábios, as gengivas e os dentes. E não é que as pimentas nativas do Brasil eram um santo remédio para esse mal?

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Nau portuguesa do século 16 (Imagem: Wikimedia Commons / Roteiro de Malaca / Francisco Rodrigues)

Dois exemplos são a malagueta (Capsicum frutescens) e a dedo-de-moça (Capsicum baccatum). Uma só dessas pimentinhas pode ter até seis vezes mais vitamina C do que uma laranja! Além disso, as pimentas tinham uma bela vantagem logística: enquanto a laranja apodrecia após três semanas de viagem, as pimentas duravam muito mais tempo – além de ocuparem bem menos espaço na embarcação.

“Historiadores nunca deram muita atenção ao papel da pimenta nas longas jornadas de exploração”, aponta Christian. Quando falamos em especiarias, logo lembramos das Índias – de onde os navegadores traziam produtos variados para vender na Europa –, mas na América também encontraram excelentes temperos.

“As pimentas se adaptaram muito bem ao clima europeu”, diz o historiador. “Na Itália, por exemplo, eram usadas para enfeitar as janelas das casas”. Bem temperada a notícia de hoje, você não achou?