Pâncreas inteligente

Que a tecnologia vem revolucionando muitas áreas da medicina, todo mundo sabe – já existe até coração artificial para substituir o órgão doente. Agora, um celular adaptado mostrou-se capaz de funcionar como um pâncreas biônico. Assim como o órgão, o aparelho libera substâncias que controlam o nível de açúcar no sangue e pode facilitar a vida de quem tem diabetes  tipo 1.

Diferentemente de um pâncreas saudável, o órgão daqueles que tem diabetes tipo 1 produz pouca ou nenhuma insulina, substância que reduz a quantidade de açúcar no sangue. Com isso, pessoas com a doença precisam monitorar constantemente seus níveis de açúcar e, todos os dias, tomam injeções de insulina para diminuí-los.

Para quem tem diabetes tipo 1, a rotina inclui uma pequena picada no dedo para monitorar os níveis de açúcar no sangue. (foto: Victor / Flickr / <a href= http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/br/> CC BY 2.0</a>)

Para quem tem diabetes tipo 1, a rotina inclui uma pequena picada no dedo para monitorar os níveis de açúcar no sangue. (foto: Victor / Flickr / CC BY 2.0)

Parece meio chato fazer isso, não é mesmo? No entanto, o novo dispositivo é capaz de, automaticamente, monitorar o nível de açúcar e injetar a insulina quando ele estiver alto. Ainda em desenvolvimento, ele também controla os níveis de glucagon, outra substância que participa da regulação do açúcar no sangue e, assim como a insulina, é produzida pelo pâncreas.

“Com o sistema, o paciente tem mais liberdade, não precisa mais medir o açúcar constantemente e tomar injeções nos horários certos, o dispositivo faz tudo isso”, conta o engenheiro e coautor do estudo Firas El-Khatib, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos.

O uso do glucagon também é novidade. “Pessoas com diabetes não costumam tomar esse hormônio, que aumenta o açúcar no sangue, pois seu problema, em geral, é o contrário”, diz Firas. “Mas níveis muito baixos podem ser tão perigosos quanto taxas elevadas.”

288 decisões por dia

Diferentemente do coração artificial, o pâncreas biônico não precisa ser transplantado para dentro do corpo. Nessa fase de desenvolvimento, o sistema incluiu um monitor de glicose, duas bombas com os hormônios e um celular. Ficou curioso para saber como funciona?

No pâncreas biônico, o celular calcula os níveis de insulina ou glucagon que a pessoa precisa e, por uma rede sem fio, envia os resultados para as bombas que liberarão os hormônios por meio de tubos ligados ao abdômen do usuário. (foto: Boston University)

No pâncreas biônico, o celular calcula os níveis de insulina ou glucagon que a pessoa precisa e, por uma rede sem fio, envia os resultados para as bombas que liberarão os hormônios por meio de tubos ligados ao abdômen do usuário. (foto: Boston University)

É simples: um sensor na pele mede o nível de açúcar e transmite para o monitor de glicose a cada cinco minutos. Os dados seguem para o celular, que verifica se é necessário aplicar doses de insulina para diminuir as taxas de açúcar, ou de glucagon, para aumentar. “As bombas, então, injetam o hormônio necessário por tubos ligados ao abdômen da pessoa”, diz Firas.

Segundo o engenheiro, o sistema toma 288 decisões de dosagem por dia, deixando a pessoa livre dessa obrigação. “O único controle necessário é encher os reservatórios de insulina e glucagon e calibrar o sistema de vez em quando”, ressalta.

O dispositivo deve ser lançado nos próximos anos e o telefone será substituído por um aparelho próprio, integrado aos compartimentos para os hormônios.

Matéria publicada em 02.10.2014

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Isabelle Carvalho

Desde criança, sempre gostei de ler e escrever histórias. Hoje, estou muito feliz por poder contar muitas histórias sobre ciência na CHC!

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