Os reis do disfarce

Assim como as pessoas gostam de se fantasiar, também existem animais que se disfarçam. Só que os motivos são diferentes: as pessoas se fantasiam por brincadeira; os animais, para não virar comida de outros animais. Alguns já nascem fantasiados, como o inseto que parece uma folha seca. Quando ele está no chão ou no meio da folhagem, dificilmente é percebido por nossos olhos, ou por algum passarinho disposto a devorá-lo.

Entre os bichos do mar, os maiores artistas das fantasias são os crustáceos chamados caranguejos-decoradores. Para defender-se de seus adversários, alguns preferem correr, mas os mais vagarosos procuram passar despercebidos para não serem comidos pelos rivais. Para conseguir isso, vão aos poucos se cobrindo com pedaços de materiais e organismos marinhos que prendem nas cerdas em forma de garfo situadas sobre a carapaça.

Eles começam a enfeitar-se assim desde cedo, logo após a segunda ou a terceira muda, isto é, quando ainda são adolescentes. Cada espécie de caranguejo-decorador tem preferência por um tipo de enfeite, mas a fantasia pode variar dentro da mesma espécie, conforme o material existente no lugar onde o bicho se instala. Em geral, a preferência é por materiais moles, que possam desprender-se com facilidade, como algas, esponjas e tubos de vermes da areia. Em circunstâncias extraordinárias, eles chegam a cobrir-se com folhas de plantas terrestres, lodo, pedaços de papel, restos de outros caranguejos e outros materiais.

À esq., o caranguejo Micropbrys bicornutus , com algas como camuflagem. À dir., o Macrocoeloma sp . muda de cor para se confundir com o lugar onde se encontra. Você consegue vê-los nas fotos? (fotos: Carlos Carmona Suárez)

Para descobrir se os decoradores variam suas fantasias com o que têm “à pata”, alguns pesquisadores os levaram para o laboratório e deixaram perto deles vários tipos de materiais. Eles viram que, quando está livre na natureza, o Acanthonyx petiveri , espécie encontrada na costa do oceano Pacífico, seleciona materiais que combinem com a cor da sua carapaça (vermelha ou verde). Mas quando colocado sem disfarce num ambiente com algas de cor diferente, usa essas algas mesmo.

O interessante é que, depois de várias mudas, a carapaça fica com a cor dessas algas. A explicação é que, ao comê-las, o caranguejo absorve seus pigmentos coloridos e os armazena na carapaça. O rei do disfarce é Maja crispata , encontrado sobretudo no mar Mediterrâneo. É um animal muito lento, que não oferece a mínima resistência quando se tenta capturá-lo. Mas graças à sua camuflagem quase perfeita é também o caranguejo mais difícil de ser avistado nos campos da planta marinha Posidonia oceanica e em outros tipos de vegetação submersa. Ele só se move à noite, protegido pela escuridão, para buscar alimento.

Com o passar do tempo, a camuflagem dos decoradores acaba virando um pequeno mundo colorido: dentro dela pululam vários tipos de esponjas, pequenos crustáceos e vermes. Outros organismos que o animal não usa na ’fantasia’, como poliquetas e cracas, também acabam depositando-se sobre ela e ali se desenvolvendo. Os microrganismos viajam, comem no caminho e, em troca, dão proteção ao hospedeiro.