Onde você estava em oito de setembro de 1978? Com toda a certeza nem sonhava em nascer! Mas saiba que, nessa data, uma ave marinha da espécie Puffinus puffinus – conhecida no Brasil como bobo-pequeno – ganhou um acessório para a vida toda: um pequeno anel de alumínio, que foi colocado em uma de suas patas.
Ela era ainda um filhote quando recebeu o que os biólogos chamam de anilha, e estava bem distante do nosso país: mais precisamente nas ilhas Bardsey, no País de Gales. Mas quem poderia imaginar que 11.357 dias depois, essa ave seria achada a 9.145 quilômetros de distância do seu local de nascimento, mais precisamente na costa do Brasil?!
Pois foi o que aconteceu! No dia 12 de outubro de 2009, os ornitólogos Luciano Lima e Bruno Rennó, além do zoólogo Salvatore Siciliano e do estudante de biologia Hélio Secco, encontraram, na praia de Manguinhos, em Armação de Búzios, no Rio de Janeiro, justamente a ave que, há 31 anos, havia recebido uma anilha na Europa. O bobo-pequeno, infelizmente, já estava morto. Mas, por conta da anilha, foi possível para os pesquisadores brasileiros saber mais sobre ele.
“No anel de alumínio, há um número que identifica a ave. Além disso, também está escrito ali o nome e o contato da instituição de pesquisa que pôs a anilha no animal. Assim, quem o encontrar pode avisá-la e, dessa forma, permitir que os pesquisadores saibam por onde aquela ave andou, quantos quilômetros percorreu, entre outras informações”, explica Luciano Lima.
Foi o que aconteceu. Por correio eletrônico, Luciano e Salvatore avisaram a entidade britânica que havia colocado a anilha no bobo-pequeno e, por carta, receberam a informação de que a ave já tinha 31 anos e estava muito, muito longe do local onde havia recebido o seu anel de alumínio. Algo interessante, mas esperado para as aves marinhas! Para você ter uma ideia, os cientistas já conseguiram reencontrar um bobo-pequeno 51 anos depois de ele ter ganho uma anilha.
“A expectativa de vida das aves marinhas costuma mesmo ser mais alta do que as das outras aves. Para se ter uma ideia, aves como rolinhas e sabiás vivem menos de 20 anos, por exemplo. Também vale lembrar que há casos de aves que foram anilhadas na América do Norte e, em 10 dias, já haviam sido encontradas no Brasil. Ou seja, animais como esses não só são capazes de percorrer grandes distâncias, como também podem fazer isso em um curto espaço de tempo”, conta Luciano Lima.