Imagine como seria ter que analisar, um por um, mais de 700 exemplares de cobras guardadas em diversos museus. Parece um desafio e tanto, não? Pois foi assim que uma equipe de pesquisadores descobriu uma espécie de cobra-coral. Apesar de um dos exemplares já ter sido coletado há mais de 150 anos, ela ainda não havia sido descrita pelos cientistas.
Segundo o zoólogo Matheus Pires, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, a descoberta aconteceu quando a equipe notou entre as cobras estudadas um grupo com características diferentes. “Ao comparamos esses exemplares, vimos que certa quantidade de animais do extremo nordeste do Brasil apresentava um aspecto característico, diferente da espécie à qual se julgava pertencer anteriormente”, explica.
Após exames detalhados do padrão de cores, da genitália e de outras características do animal, os pesquisadores identificaram e deram nome à nova espécie: Micrurus potyguara, em homenagem aos índios potiguara. Ela é classificada como cobra-coral verdadeira por conter glândulas de venenos nos lados da cabeça, conectadas a presas que injetam veneno – detalhe que não está presente nas cobras-corais falsas.
A cobra recém-descoberta foi identificada enquanto Matheus revisava exemplares da espécie Micrurus lemniscatus. “Vi que alguns deles tinham características que definiam uma nova espécie”, afirma o pesquisador.
Matheus espera que, agora, exemplares do nordeste brasileiro que eram atribuídos à outra espécie nas coleções dos museus possam ser classificados corretamente. “Graças à descrição da espécie, exemplares observados na floresta também poderão ser facilmente reconhecidos e identificados”, completa.
Apesar de venenosa, a cobra recém-descoberta é muito tímida – não há registro de que já tenha atacado pessoas nem outros animais. “Provavelmente, as vacas são mais perigosas do que essa cobra”, brinca o pesquisador. “Cobras-corais são bichos discretos, se alimentam de outras cobras e vivem a maior parte do tempo enterradas. Só mordem se forem agredidas”.