O segredo do baiacu

Entre as curiosas criaturas que habitam o fundo do mar, tenho uma curiosidade especial pelo baiacu. Em um minuto, o pequenino peixe está nadando tranquilamente e no outro… Puf! Enche-se de água, assumindo uma forma bem maior e arredondada – o que funciona como uma bela estratégia de proteção, já que dificulta que ele seja comido por predadores. Mas como será que isso acontece?

O baiacu tem um lugar reservado entre os curiosos seres do mar, por sua capacidade de inflar seu corpo e assumir o formato de bola. (foto: Capitu / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/deed.pt)CC BY-NC 2.0(/a))

O baiacu tem um lugar reservado entre os curiosos seres do mar, por sua capacidade de inflar seu corpo e assumir o formato de bola. (foto: Capitu / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/deed.pt)CC BY-NC 2.0(/a))

Para descobrir, os biólogos Renata Mari, do campus do Litoral Paulista da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e Matheus Rotundo, da Universidade Santa Cecilia, estudaram duas espécies do peixe em São Vicente, São Paulo: o baiacu-de-espinho e o baiacu-pintado.Eles descreveram o sistema digestório dos animais para entender melhor sua já conhecida relação com o curioso mecanismo de defesa dos bichos.

Para descobrir como funciona o mecanismo de defesa do baiacu, os pesquisadores estudaram duas espécies: baiacu-pintado (à esquerda) e o baiacu-de-espinho (à direita). (fotos: LABMAM-CLP/UNESP)

Para descobrir como funciona o mecanismo de defesa do baiacu, os pesquisadores estudaram duas espécies: o baiacu-pintado (à esquerda) e o baiacu-de-espinho (à direita). (fotos: LABMAM-CLP/UNESP)

“Nossas observações mostraram a existência de um tipo de bolsinha na região final do esôfago desses peixes, que pode ser enchida de água quando eles se sentem ameaçados, permitindo que aumentem de tamanho”, explica.

Apesar de famoso, esse não é o único mecanismo de defesa dos baiacus: algumas espécies possuem espinhos e até um veneno bem tóxico. “Geralmente, quanto menor é a espécie, mais veneno o baiacu tem, pois não consegue inflar tanto seu corpo e precisa se defender de outra forma”, conta Renata.

Além de inflarem seu corpo, algumas espécies contam com espinhos e até veneno para se proteger dos predadores. (foto: Luciana Soldi Bullara / Flickr /(a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/deed.pt)CC BY-NC 2.0(/a))

Além de inflarem seu corpo, algumas espécies contam com espinhos e até veneno para se proteger dos predadores. (foto: Luciana Soldi Bullara / Flickr /(a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/deed.pt)CC BY-NC 2.0(/a))

Mesmo sendo venenoso, o baiacu faz parte da alimentação humana e é, inclusive, uma iguaria muito requintada em algumas culturas. Para comê-lo, é preciso limpar muito bem o peixe e retirar todo o veneno. No entanto, Renata explica que, futuramente, pode ser que a substância não seja descartada. “Já existem estudos que avaliam o uso do veneno como analgésico e para controlar dependências químicas”, completa.

Indicador ambiental

Depois de estudar os segredos da habilidade tão característica dos baiacus, a pesquisadora agora estuda a possibilidade de usar o peixe como indicador da degradação ambiental. A proposta é comparar espécies de áreas poluídas e não poluídas para ver como a poluição afeta células do intestino desses peixes. “Estamos na fase de captura dos animais, mas logo partiremos para o estudo de partes do sistema digestório”, conta.