O segredo de seus olhos

Lá na roça o pessoal diz que tem cobra que hipnotiza com o olhar. Bem, isso é o que dizem… Mas a verdade é outra. Diferentemente de nós, as serpentes não possuem pálpebras. Isso quer dizer que elas não conseguem piscar. Seus olhos ficam abertos o tempo todo e são protegidos por uma escama transparente. É essa característica que faz muita gente pensar erroneamente que as serpentes hipnotizam. Afinal, o olhar delas é fixo, sem piscadelas!

Os olhos das serpentes não têm pálpebras e são cobertos por uma escama transparente. Por isso, você nunca vai ver uma serpente piscar. (foto: Henrique C. Costa)

Os olhos das serpentes não têm pálpebras e são cobertos por uma escama transparente. Por isso, você nunca vai ver uma serpente piscar. (foto: Henrique C. Costa)

Não bastasse a ausência de pálpebras, os olhos das serpentes trazem ainda alguns segredos que podem nos ajudar a entender como esses animais evoluíram. As serpentes são répteis, mais especificamente um grupo de lagartos que, ao longo do curso da evolução, ficou com o corpo mais longo e perdeu os membros. Mas as mudanças não pararam aí. Se analisarmos os olhos de uma serpente internamente, veremos que ele é muito diferente dos olhos dos outros répteis.

Para alguns cientistas, as características tão particulares dos olhos das serpentes pareciam contar a história de como elas teriam evoluído. As primeiras serpentes deveriam viver embaixo da terra e ter olhos muito pequenos e simples, talvez capazes apenas de distinguir claro e escuro.

Algumas serpentes – como esta cobra-fio – possuem olhos muito pequenos, adaptados a viver no subsolo. Alguns estudos do século passado sugerem que as primeiras serpentes seriam mais ou menos assim. (foto: Henrique C. Costa)

Algumas serpentes – como esta cobra-fio – possuem olhos muito pequenos, adaptados a viver no subsolo. Alguns estudos do século passado sugerem que as primeiras serpentes seriam mais ou menos assim. (foto: Henrique C. Costa)

Algumas espécies atuais, as cobras-fio, são exatamente assim, e talvez fossem representantes de uma das primeiras linhagens de serpentes a evoluir. Com o passar de milhões de anos, outras cobras se adaptaram de volta à vida na superfície. Seus olhos teriam evoluído mais uma vez, permitindo enxergar nesse ambiente cheio de formas e cores. Porém, novos estudos sugerem um rumo diferente para essa história.

Cientistas analisaram, no DNA de várias espécies de répteis, cinco genes que estão relacionados à fabricação das substâncias responsáveis pela visão em cores e pela visão noturna – são os chamados genes de opsina. Eles descobriram que quase todos os lagartos e até mesmo as anfisbênias possuem esses cinco genes. As serpentes possuem apenas três, sendo que as cobras muito especializadas a viver embaixo da terra só têm um, que lhes permite apenas diferenciar luz e escuridão.

Por muito tempo os cientistas pensaram que as cobras-fio pertencessem a um grupo de serpentes mais primitivas, e que as primeiras serpentes teriam se parecido com elas. Mas os estudos mais recentes sugerem uma história diferente. (foto: Maximilian Paradiz / Wikimedia Commons)

Por muito tempo os cientistas pensaram que as cobras-fio pertencessem a um grupo de serpentes mais primitivas, e que as primeiras serpentes teriam se parecido com elas. Mas os estudos mais recentes sugerem uma história diferente. (foto: Maximilian Paradiz / Wikimedia Commons)

Então, ao contrário do que se pensou por muito tempo, as primeiras serpentes não teriam os mesmos hábitos e visão das cobras-fio. Elas seriam noturnas, mas ainda capazes de distinguir cores, e também não viveriam apenas enterradas. Com o passar do tempo, algumas espécies se adaptaram à vida exclusivamente subterrânea e seus olhos evoluíram para uma forma mais simples, capaz de enxergar apenas o claro e o escuro, enquanto outras continuaram a viver na superfície.

Será que a visão das serpentes tem mais segredos para revelar? Os cientistas continuarão estudando em busca de mais informações. É bom ficar de olho!