O primeiro astronauta brasileiro

Em dezembro de 2000, o Brasil ganhou seu primeiro astronauta: Marcos César Pontes. Nessa data, ele concluiu o treinamento básico dado pela Nasa, a agência espacial americana, e foi considerado apto para voar. Hoje, aguarda a chamada para ir ao espaço balançar a bandeira brasileira.

Nascido em Bauru, no interior de São Paulo, nosso astronauta, quando criança, queria ser piloto de avião. De família humilde, filho de um servente com uma escriturária, ele se acostumou a brincar nadando no rio e a correr descalço pelas ruas da sua cidade. Mas nem por isso deixou de estudar. Ao contrário, estudava em dobro: como sua mãe não tinha com quem deixá-lo enquanto trabalhava, ele estudava de manhã e, à tarde, continuava no colégio.

Foi o estudo seu passaporte para o espaço. Ao concluir o ensino médio, Marcos conseguiu passar para a Escola de Especialistas da Aeronáutica e se formou como piloto militar de aviões. Então, não parou de se aprimorar. Atualmente, faz treinamento avançado e participa do programa Estação Espacial Internacional, que reúne 16 países — entre eles, o Brasil — na construção e manutenção de um laboratório em órbita da Terra.

Na entrevista a seguir, o astronauta brasileiro conta para os leitores da CHC como é o seu treinamento, fala sobre a Estação Espacial Internacional e dá dicas para quem sonha em ir ao espaço. Confira!

Quando criança, você sonhava em ser astronauta?

Eu cresci vendo aviões, adorava ir ao aeroclube. Meu sonho inicial era ser piloto da Força Aérea, e foi o que me tornei. Não me preparei para ser astronauta, mas minha carreira se tornou típica de um astronauta, com formação como piloto e engenheiro aeronáutico.

Nos filmes, o treinamento dos astronautas é cheio de emoção: eles são expostos a perigos e fazem exercícios malucos. Como é, na verdade, o seu treinamento?

O treinamento é muito técnico. Nos primeiros dois anos, fiz o treinamento básico: conheci e aprendi a operar em detalhes os sistemas do ônibus espacial e da Estação Espacial Internacional. Fiz também vários cursos: geologia, medicina de emergência, sobrevivência — que ajuda a manter a calma em um momento tenso. De 2000 para cá, faço o treinamento avançado: qualificações em várias áreas, como robótica e mecânica orbital.

O que é a Estação Espacial Internacional?
É um laboratório que fica em órbita da Terra, a 400 quilômetros de altura. Ela tem uma área de 10 mil metros quadrados, pesa 700 toneladas e gira em uma velocidade de 28 mil km/h, dando uma volta na Terra a cada hora e meia. Sua função é a de laboratório porque, na Terra, temos a gravidade. No espaço, ela praticamente não existe, o que favorece a realização de muitos experimentos em física, química, medicina, farmacêutica e tudo mais. Por isso é interessante que nós, brasileiros, tenhamos acesso a esse laboratório.

Qual seria a sua função em uma missão espacial?

Como todo astronauta, tenho a função de montar a estação espacial, de operá-la e todos os seus sistemas: os equipamentos, fazer a manutenção dela, do ônibus espacial etc. Além disso, tenho a responsabilidade de realizar os experimentos que serão levados para lá. Posso, por exemplo, passar três meses na Terra estudando um experimento e vendo exatamente tudo o que eu tenho de fazer para repetir a mesma coisa no espaço.

Você é primeiro astronauta brasileiro da história. Como é representar o país na Estação Espacial Internacional?

É uma grande responsabilidade, pois sirvo como uma bandeira móvel. Qualquer coisa que eu fizer, não é o Marcos que está fazendo, é o astronauta brasileiro, aquele que representa 170 milhões de pessoas.

Muitas crianças sonham em ir ao espaço. Na sua opinião, o que elas precisam ter para conseguir isso? A sua participação abre portas para outros astronautas?
Sem dúvida, eu sou como um ’rompe-mato’ — aquele que abre a trilha, se corta muito, mas deixa um caminho aberto atrás de si. Eu sou o primeiro, mas não quero ser o único nem o último. Quero que isso se propague para outras pessoas, que o Brasil mantenha sua participação na Estação Espacial Internacional. Com a continuidade normal da participação do Brasil nesse projeto, há chance de irem outros astronautas. Agora, vai depender deles. Quem quer ser um astronauta precisa ter persistência, sonhar alto sempre e correr atrás do que quer, independentemente das dificuldades. Não olhar a dificuldade que está à frente, mas o objetivo que está além da dificuldade.

Para saber mais, visite o site de Marcos Pontes