O picolé da bicharada

Os orangotangos Tanguinha e Else deliciam-se com picolés de melancia (fotos: Esther Nazareth/RIOZOO).

Dia de sol, temperatura nas alturas, nada como um picolé para refrescar. Mas você sabia que tomar sorvete não é privilégio dos seres humanos? Outros animais também degustam essa delícia. Que o digam a ursa Trina, os orangotangos Tanguinha e Else, o chimpanzé fêmea Cássia e outros moradores do zoo do Rio de Janeiro. Essa iguaria faz parte do seu cardápio. Mas por quê?

Estímulo no palito

Animais que vivem em cativeiro podem ficar estressados e entediados, pois esses lugares não oferecem muitos estímulos para eles. Afinal, os bichos estão fora do seu ambiente natural, não caçam mais para se alimentar, o espaço que têm à disposição é o da área em que são mantidos…

Diante disso, os animais podem ficar deprimidos, o que é capaz de deixá-los mais suscetíveis a doenças. Assim, os biólogos usam técnicas que tornam o ambiente mais estimulante. Uma delas é oferecer o alimento de uma forma diferente da que o bicho está acostumado. E é aí que entra o picolé!

A ursa Trina e seu sorvete. Essa delícia gelada serve como um desafio e um passatempo para o animal.

Sorvete de frutas

Para surpreender os animais na hora da comida, pode-se mudar o horário de servi-la, a quantidade e o tipo de alimento oferecido e até mesmo escondê-lo ou congelá-lo. Essa última opção é a que faz a festa dos moradores do zoo do Rio de Janeiro. Lá uma das receitas de sorvete usadas é simples: várias frutas são postas em um recipiente cheio de água, que é congelado. Uma vez pronto, o sorvete é lançado para bichos como os ursos-pardos, tornando-se um desafio e um passatempo para esses animais. “Para ter acesso às frutas que estão no meio da água congelada, o animal tem que raspar, morder, até conseguir retirá-las ali de dentro. Além disso, em dias muito quentes, ele fica lambendo o sorvete, o que contribui para que continue hidratado”, explica a bióloga Débora Boccacino, responsável por introduzir essa técnica no zoológico carioca.

Chimpanzés como Cássia conseguem segurar o picolé pelo palito graças à habilidade que têm com as mãos.

Quem vai querer picolé?

Entre a macacada, porém, o sorvete servido é o tradicional picolé. Feito de suco de frutas sem açúcar, ele vem com palito e tudo. Afinal, esses animais, ao contrário de bichos como os ursos-pardos, conseguem segurar essa delícia gelada pelo palitinho, igual a nós, já que têm muita habilidade com as mãos. Aliás, é justamente por terem essa característica que os macacos ganham picolés mesmo e não a outra receita de sorvete, servida para os ursos, por exemplo. “Assim, estamos estimulando a percepção tátil desses animais, não só da mão, mas também da língua, já que eles percebem uma textura e uma temperatura diferente no alimento”, conta Débora Boccacino.

Delícias mais do que especiais

Mas será que saber que os animais tomam sorvete permite que você ofereça a eles o picolé que comprou? A resposta é não – e vale para qualquer tipo de comida. Sabe por quê? Nós comemos muitos alimentos industrializados, que têm conservantes, corantes, enfim, uma porção de produtos químicos que podem causar alergias ou mesmo fazer mal. Não só para os animais, mas também para a gente, já que uma alimentação natural é mais saudável. Por isso é que o picolé que tomamos não serve para os bichos. Já o deles, acredite se puder, até a gente poderia tomar. Afinal, eles são feitos de suco de fruta sem açúcar congelado, principalmente de manga, laranja ou melancia. Portanto, não têm chance de causar reação nos simpáticos moradores do zoológico carioca e nem mesmo na gente!