Feche os olhos e imagine-se no ano de 1500, chegando de caravela a uma terra completamente nova. O que você acha que iria encontrar? Mata virgem, índios e muitos animais. Você levaria um susto vendo bichos que nem imaginava que existiam, não é mesmo? Pois foi assim que se sentiu Vicente Yánez Pinzón, talvez o primeiro navegador a chegar à costa brasileira, meses antes de Pedro Álvares Cabral. As impressões do explorador espanhol sobre a fauna brasileira foram relatadas por seu companheiro de viagem Pedro Martyr. Além dele, 26 viajantes que chegaram aqui registraram suas aventuras em textos que estão reunidos no livro O Novo Éden.
Imagine a cara de Pinzón ao se deparar, por exemplo, com uma mucura (’parente’ dos gambás que, como eles e os cangurus, carrega os filhotes em uma bolsa)! O bicho foi descrito como “um animal monstruoso” por Martyr e levado para a Europa, onde causou grande espanto. Afinal, os homens daquela época não conheciam muitos animais além dos citados na história da Arca de Noé.
Muitos anos depois, em 1757, o padre João Daniel redigiu um relato que mencionava vários animais. Um dos que mais o impressionaram foi o tamanduá, que ele descreveu assim: “a sua vida e sustento é caçar e comer formigas, e como estas na América são inumeráveis, nunca padece fome”. O religioso comenta ainda que o cabelo do bicho “poderia servir de espanador de sala”. Já o jacaré é descrito como “o maior lagarto do mundo, capaz de investir e intimidar o mais robusto gigante”. Há espaço nesse texto também para animais fantasiosos, lendas indígenas e contos de caçadores.
Há relatos sobre as espécies mais variadas, como aves, tartarugas, peixes… Mas adivinhe qual o único animal citado em todos os textos do livro? Uma pista: um inseto que incomoda muita gente, principalmente se fica zumbindo no nosso ouvido na hora de dormir. Ficou fácil, não é? Trata-se do mosquito, que na língua indígena é chamado carapanã.
Os relatos mais antigos descrevem bem a surpresa dos primeiros exploradores, principalmente aqueles que chegaram sem querer à costa brasileira. O contato com os índios foi fundamental para os europeus conhecerem melhor os animais e fazerem textos mais detalhados. Aliás, é possível perceber lendo o livro como a quantidade de espécies e de grupos indígenas era bem maior que nos dias de hoje…