O centenário de Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade, nascido em 31/10/1902 em Itabira (MG), era um grande observador da realidade humana (fotos: cortesia Editora Record)

(…)
– Mas que é que eu tenho com o jogo com a Bulgária, façam-me o favor? (…)
O chefe da seção aproximou-se, apaziguador:
– Desculpe, cavalheiro. Queira voltar na quinta-feira, 14. Quinta-feira não haverá jogo, estaremos mais tranqüilos.
– Mas prometeram que meu papel ficaria pronto hoje, sem falta.
– Foi um lapso do funcionário que lhe prometeu tal coisa. (…) O Brasil lutando com a Bulgária, o senhor quer que o nosso pessoal tenha cabeça fria para informar papéis?
– Perdão, o jogo vai ser logo mais, às 15 horas. É meio-dia, e já estão torcendo?
– Ah, meu caro senhor, não critique nossos bravos companheiros, que fizeram o sacrifício de vir à repartição trabalhar, quando podiam ficar em casa ou na rua, participando da emoção do povo…
(…)
(trecho de “O importuno”)

Como os brasileiros gostam de futebol! O trecho que você leu faz parte do grande número de obras que Carlos Drummond de Andrade deixou. Ele escreveu poesias, contos e crônicas. Epa! Você sabe o que é uma crônica? Crônica é um texto que conta ou comenta histórias que acontecem no dia-a-dia com qualquer pessoa. Só que escrevê-la não é tão fácil assim: para que esse texto seja agradável de ler, as palavras devem ser bem escolhidas e arrumadas no papel! E você, já pensou em escrever um texto que faça as pessoas rirem, pensarem, e até entenderem melhor o que acontece em volta delas?


Pois Drummond escrevia assim. O escritor investigava e criticava o que achava errado na sociedade, normalmente com humor e ironia. A época em que viveu também influenciou a sua obra. Entre 1922 e 1945 acontecia, no Brasil, um movimento artístico chamado Modernismo. O Modernismo brasileiro buscava novas formas de expressão na arte e valorizava a produção nacional. Os escritores modernistas também pensavam assim. Eles queriam liberdade de criação e uma linguagem nova na literatura brasileira! E foi um poema modernista de Drummond chamado “No meio do caminho”, publicado na Revista de Antropofagia , em 1928, que se tornou um dos maiores escândalos literários no país:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
(…)

Mas não pense que as obras de Drummond se encaixam apenas no Modernismo! O escritor produziu textos sobre os mais diferentes temas. Algumas poesias mostram certo pessimismo em relação à vida, outras falam de saudade, de amor, de Itabira. Para compreender e conhecer toda essa produção, o melhor é ler o maior número possível de obras do escritor. Mas não se espante: você bem que vai gostar dessa tarefa! Vamos combinar assim: você clica aqui e tem acesso a mais informações sobre um dos escritores mais importantes da literatura brasileira!

Matéria publicada em 11.07.2002

COMENTÁRIOS

Envie um comentário

Elisa Martins

CONTEÚDO RELACIONADO

Um mergulho com os peixes

Acompanhe o final da aventura de Rex, Diná e Zíper e suas descobertas no fundo do mar.