Nas nuvens da Amazônia

Bem no meio da floresta amazônica brasileira fica uma grande cidade: Manaus, a capital do Amazonas. Bastante urbanizada, a cidade emite poluentes no ar que podem prejudicar a floresta. Para tentar entender o impacto da capital na natureza, dois aviões sobrevoaram a região por cerca de 200 horas ao longo de 2014 e descobriram que a poluição modifica as nuvens e as chuvas da cidade e de seu entorno.

Com aviões, cientistas estudaram as nuvens sobre a Amazônia e a quantidade de gases poluentes presentes na atmosfera. (foto: Luiz Augusto Toledo Machado)

Com aviões, cientistas estudaram as nuvens sobre a Amazônia e a quantidade de gases poluentes presentes na atmosfera. (foto: Luiz Augusto Toledo Machado)

As aeronaves estavam equipadas com instrumentos capazes de medir uma série de dados dos poluentes presentes nas nuvens. “Elas sobrevoaram a Amazônia em dois períodos diferentes: o primeiro na estação chuvosa, entre fevereiro e março, e o segundo durante o período seco – que tem menos chuva –, entre setembro e outubro”, explica o meteorologista Luiz Augusto Toledo Machado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que participou do estudo.

Foram medidas as concentrações de gases poluentes como o gás carbônico, o óxido nítrico e o dióxido de nitrogênio presentes na atmosfera. Também foram avaliadas certas propriedades das nuvens, como o tamanho das gotas e a quantidade total de água em cada uma.

Os resultados mostraram que a poluição se comporta de modo diferente durante os períodos de seca e de chuvas.. “No período chuvoso da Amazônia, o nível de poluentes é mais baixo, já que a poluição é proveniente principalmente da cidade de Manaus”, explica Luiz Augusto. “Já no período seco, é mais comum haver queimadas nas florestas e, assim, são gerados mais poluentes que se somam aos da cidade”.

Por isso, as nuvens que aparecem nos dois períodos são diferentes. Na época seca, elas são mais densas e as chuvas, mais localizadas. “Notamos que a poluição diminui o tamanho das gotas de chuva e, assim, o processo de precipitação é retardado, chovendo menos”, afirma o meteorologista. “Isso confirma que a poluição influencia na meteorologia do local”.

Atualmente, os pesquisadores ainda não conhecem bem o impacto dessa poluição e da mudança nas nuvens sobre a biodiversidade da floresta. “Certamente a chuva tem efeitos relevantes sobre a biodiversidade do local, mas a pesquisa ainda não avaliou isso”, comenta Luiz Augusto.

O próximo passo do estudo já está em andamento: estão construindo uma torre de mais de 300 metros de altura em uma região da floresta amazônica próxima a Manaus para coletar novos dados. “A Amazônia tem um papel fundamental no clima do planeta e precisa ser avaliada a fundo”, ressalta o pesquisador.