Muita iluminação, pouca visão

Você sabia que está cada vez mais difícil observar as estrelas no céu à noite? Esse é apenas um dos diversos problemas que a poluição luminosa causa. Além disso, ela pode prejudicar os animais, dificultar o trabalho de astrônomos e até atrapalhar a nossa saúde! Que perigo, não é? Mas você sabe do que estamos falando?

Veja, à esquerda, a simulação do céu em uma cidade de médio porte. À direita, como seria o céu no mesmo local e horário, caso não houvesse nenhuma interferência da iluminação artificial (Foto: Tânia Dominici)

“Poluição luminosa é quando a iluminação artificial é usada de forma exagerada e inadequada”, explica astrônoma Tânia Dominici, do Laboratório Nacional de Astrofísica. Se você mora em uma cidade grande, pode dar um passeio à noite e conferir: são muitos postes de luz, decorações luminosas em prédios e monumentos públicos, sem falar nas casas e prédios com muitas lâmpadas acesas.

Filhotes de tartaruga, quando saem dos ovos, se guiam pela luz das estrelas refletida no mar. Luzes artificiais fortes fazem com eles se percam, fiquem vulneráveis aos predadores ou morram de desidratação por não conseguir alcançar a água (Foto: National Park Service)

Um dos problemas causados pela poluição luminosa é atrapalhar a vida dos animais que se guiam pelo brilho das estrelas. Os pássaros, por exemplo, usam as estrelas como guia na fase migratória. Quando passam por uma cidade muito iluminada, eles podem se perder do seu bando, não completar o processo de migração ou até mesmo bater nos prédios durante o voo, o que pode levar à morte.

Em relação à nossa saúde, a poluição luminosa age sobre a produção de melatonina, um hormônio importante fabricado pelo corpo humano e que nos ajuda a descansar durante o sono e acordar bem no dia seguinte. Porém, ela só é produzida adequadamente quando dormimos na completa escuridão – se ficarmos expostos à iluminação artificial ao longo da noite, nosso corpo fabrica menos melatonina do que o necessário e já acordamos cansados.

Já na astronomia, o problema é a visibilidade: quando existe muita iluminação em uma cidade, o céu fica com uma cor esbranquiçada ou alaranjada que prejudica a observação. “Além de aumentar o brilho de fundo do céu e impedir a observação de objetos celestes mais fracos, a iluminação urbana emite luz em certas frequências que interferem no estudo do brilho das estrelas e outros corpos”, conta Tânia. “Assim, fica mais complexo diferenciar, nas observações em telescópios, o que é iluminação artificial e o que é emitido pelos corpos celestes”.

A poluição prejudica os instrumentos de observação astronômica. O telescópio do Observatório do Pico dos Dias, em Itajubá, Minas Gerais, tem sua capacidade afetada pela poluição luminosa (Foto: Tânia Dominici)

Segundo a astrônoma, uma das soluções para este problema é o planejamento da iluminação nas cidades na linha abaixo do horizonte – de modo a iluminar somente o solo, e não o céu – e a opção por lâmpadas mais amareladas, que são mais econômicas e menos prejudiciais para o meio ambiente. “Combater a poluição luminosa não é iluminar pouco, mas sim iluminar corretamente uma área específica e apenas durante o tempo em que a luz é realmente necessária”, afirma. Na sua casa, você pode evitar, por exemplo, deixar lâmpadas acesas desnecessariamente. O céu agradece!

Algumas iniciativas tentam mapear a poluição luminosa no planeta. É o caso do Globe at night (Globo à noite, na tradução para o português). A cada época do ano e em cada hemisfério, o projeto escolhe uma constelação que seja fácil de encontrar no céu. A partir daí, as pessoas contam quantas estrelas elas conseguem ver na região dessa constelação. Depois de contar as estrelas visíveis, os dados são registrados em uma página na internet, junto com a localização de quem fez a observação. Assim, fica mais fácil para os astrônomos mapearem as áreas poluídas e desenvolverem projetos para a diminuição e prevenção desse problema.

Fernanda Tavora