Misterioso habitante da floresta

Passear pela mata em busca de veados-campeiros (Mazama gouazoubira) faz parte do trabalho de pesquisadores do Mato Grosso do Sul. Eles caminham pela floresta da Nhecolândia, uma região do Pantanal, para acompanhar o dia a dia dos animais, que de tão íntimos já ganharam até apelidos — um deles, por exemplo, recebeu o nome de Luan Santana, em homenagem ao cantor.

Veado-catingueiro

Os veados-catingueiros vivem em torno de dez anos e são pequenos em relação a outras espécies de veados – medem cerca de 60 centímetros de altura e pesam até 20 quilos. Eles se alimentam de flores, frutos, gramíneas e arbustos (Foto: Francisco Grotta Neto)

Os veados-catingueiros estão presentes em vários biomas de norte a sul do país e, mesmo assim, pouco se sabe sobre eles. Para reconhecê-los, procure um ponto branco próximo aos olhos. Mas você vai precisar de sorte: ariscos, os animais desta espécie adoram se esconder e fogem ao menor sinal de uma companhia indesejada.

“O catingueiro usa o olfato e a audição para pressentir ameaças à sua segurança”, explica o zootecnista Ubiratan Piovezan, da Embrapa Pantanal. “Como é alvo de predadores terrestres, ele usa as folhas secas no chão como sistema de alarme. Quando alguém se aproxima e mexe na palha do chão, o veado percebe logo e sai correndo”.

Para saber mais sobre o veado-catingueiro, cientistas da Embrapa e da Universidade Estadual Paulista em Jaboticabal estão realizando estudos no Pantanal, onde é mais fácil capturar esses animais. Os pesquisadores colocam uma espécie de colar eletrônico no bicho, equipado com um GPS – sistema que permite acompanhar e registrar a localização exata do animal na mata. Depois, é só soltar os veados novamente e monitorar sua atividade.

Cientistas colocam nos veados-catingueiros colares eletrônicos que permitem registrar tintim por tintim os seus passeios (Foto: Jorge Morales Donoso)

Outra técnica usada pelos cientistas é espalhar pela floresta 20 armadilhas fotográficas, ou seja, câmeras especiais que são disparadas pelo movimento dos bichos. De tempos em tempos, os equipamentos são coletados e as fotos, analisadas.

Por fim, a técnica mais curiosa usada no estudo dos catingueiros é a coleta de fezes do animal no chão da mata. Ela ajuda a descobrir mais sobre os locais frequentados pelos bichos, além de esclarecer detalhes de sua alimentação. Para encontrar as amostras, os cientistas contam com a ajuda de um cão farejador.

Segundo Ubiratan, a combinação dessas três técnicas vai ajudar a desenvolver metodologias para estudar os veados-catingueiros em outros biomas, como a Mata Atlântica e a Amazônia. Assim, poderemos saber mais sobre esses misteriosos habitantes da floresta!