Maravilhas do país de Alice

Imagine que você está sentado em um jardim sem nada para fazer. Aí, de repente, vê um coelho branco. Mas não um coelho qualquer. Antes de entrar na toca, ele passa apressado, tira um relógio do bolso do colete e diz para si mesmo que vai chegar muito atrasado em algum lugar que você não faz ideia de onde seja. Coelho apressado e de colete? O que você faria?

Com certeza, a curiosidade te levaria a correr atrás dele, não é? Exatamente como fez uma das mais conhecidas personagens da literatura infantil de todos os tempos: Alice. Ao se deparar com essa inusitada cena, ela deu início a uma incrível viagem por um mundo de sonhos. Afinal, se é na toca do coelho que surge o País das Maravilhas, é na imaginação de Alice que esse país se torna real. Realidade contada no livro Alice no País das Maravilhas. Escrito há 145 anos pelo inglês Lewis Carroll, ele até hoje encanta pessoas de todo mundo.

Ilustrações: Luiz Zerbini. Reprodução do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll com tradução de Nicolau Sevcenko, editora Cosac Naify).

Em um mundo que não faz sentido
Mas sabia que essa obra foi lançada em uma época marcada por grandes mudanças no mundo? Era a Revolução Industrial: período marcado pelo surgimento das fábricas. Tudo o que costumava ser feito à mão passou a ser produzido por máquinas e em ritmo industrial: ou seja, bem acelerado! Algo que influenciou até o comportamento das pessoas. Disciplina, rapidez, repetição eram as palavras de ordem.

E não é que o livro Alice no País das Maravilhas chegou para criticar tudo isso? Afinal, com jeito de quem sabe tudo, Alice vive aventuras na companhia de estranhas criaturas em um mundo que, a seu ver, não faz o menor sentido. Um lugar onde – imagine! – ela irá desafiar uma rainha autoritária, que comanda um exército de cartas de baralho e tem uma única solução para todos os problemas: cortar cabeças!

Lewis Carroll, o autor de Alice no País das Maravilhas (foto: The Granger Collection, New York).

“O livro Alice no País das Maravilhas rompe com a disciplina e a rotina típicas da era das fábricas, da industrialização, em que as pessoas também passam a se comportar como motor, máquina. A personagem Alice transgride, troca, experimenta, faz mudanças. Ela é uma criança”, conta a escritora Ninfa Parreiras, especialista da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. “A grande crítica da obra, aliás, talvez esteja na própria definição do que é a infância. A criança já foi tida como um adulto em miniatura. Era assim na época do lançamento do livro.  Isso mudou. Mas Alice no País das Maravilhas continua a nos fazer pensar: o que é a infância? Quem é a criança?”.

Mais de cem anos depois

Talvez você não saiba, mas quem inspirou Lewis Carroll a criar a personagem Alice foi uma menina que existiu de verdade!

Alice Liddell era uma inglesinha amiga do escritor, que, às margens do Rio Tâmisa, na Inglaterra, pediu a ele uma história. De presente, ela e o mundo ganhariam… Alice no País das Maravilhas.

Alice Liddell (foto: Reprodução).

Mas por que será que esse livro, lançado há mais de um século graças ao pedido de uma criança, continua a despertar o interesse de leitores nos dias de hoje e a inspirar artistas como o cineasta Tim Burton, que lançou recentemente o filme Alice no País das Maravilhas?
 

Para Ninfa Parreiras, a resposta é simples. “Em sua obra, Lewis Carroll aborda sentimentos, como a curiosidade e a surpresa, que são universais, comuns às crianças de todo o mundo e de épocas diferentes”, conta. Então, se você ainda não leu esse livro, que tal buscar logo o seu exemplar? Um mundo fantástico o aguarda. E você nem precisa ter a sorte de encontrar um coelho branco de relógio e colete para levá-lo até lá!

Almanaque de personagens

São muitos os personagens de Alice no País das Maravilhas. E diversas as associações e críticas que Lewis Carroll pretendia fazer por meio de cada um. “O Coelho Branco de Colete, por exemplo, é uma espécie de guia: representa a entrada da falta da razão no mundo da criança”, conta Ninfa Parreiras. Por sua vez, a Lagarta que ouve Alice reclamar de viver trocando de tamanho no País das Maravilhas representa os questionamentos da menina a respeito da sua própria identidade. E quanto à Tartaruga Fingida? “Ela é uma vítima do destino”, explica Ninfa. Vive muito triste, com saudades do passado, como muita gente por aí. Será que Lewis Carroll a criou para alfinetar alguém que conhecia? Isso não dá para saber. Mas o certo é que a Tartaruga Fingida é bem diferente do Gato Risonho, um bicho independente, que consegue aparecer e desaparecer quando bem quiser.

Matéria publicada em 05.05.2010

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Debora-Antunes

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