Língua eletrônica

Você sabia que tem gente que ganha a vida só experimentando bebidas, como vinhos e cafés? São profissionais chamados sommeliers. Um projeto desenvolvido aqui no Brasil desenvolveu uma espécie de sommelier de metal – na verdade, uma língua eletrônica, que pode ser utilizada como um sensor muito sensível para analisar diversos tipos de líquidos.

À primeira vista, a língua não se parece em nada com o nosso órgão: ela é formada por um conjunto de eletrodos – pequenas peças de metal que conduzem corrente elétrica. Seu funcionamento, no entanto, é parecido com o nosso paladar (Foto: M Glasgow / Flickr / CC BY 2.0)

À primeira vista, a língua não se parece em nada com o nosso órgão: ela é formada por um conjunto de eletrodos – pequenas peças de metal que conduzem corrente elétrica. Seu funcionamento, no entanto, é parecido com o nosso paladar (Foto: M Glasgow / Flickr / CC BY 2.0)

Longe de provar só coisas gostosas, o equipamento pode ser usado para provar substâncias que ninguém gostaria de experimentar, como água contaminada. A língua eletrônica poderia ser usada, também, para melhorar o gosto desagradável de remédios e até para ajudar no diagnóstico de doenças – uma versão do aparelho já foi capaz de diferenciar amostras de sangue contaminadas por protozoários diferentes.

A língua eletrônica é formada por eletrodos envolvidos por capas 100 vezes mais finas que um fio de cabelo, que podem conter materiais como metais ou moléculas orgânicas. Para analisar um líquido, os pesquisadores mergulham o dispositivo nele e produzem uma corrente elétrica, que vai gerar uma resposta específica em cada eletrodo, dependendo da composição dessa capa.

Juntando todas essas respostas, é possível formar uma “impressão digital” do líquido, que é única – ou seja, cada líquido tem a sua. Assim, fica fácil identificar se a substância for modificada! “Qualquer alteração na amostra, como a presença de algum contaminante ou a simples adição de sal, altera essa impressão digital”, explica o físico Osvaldo Novais de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP).

A tecnologia desta língua eletrônica foi totalmente desenvolvida no Brasil e seus inventores estão aperfeiçoando o aparelho para que ele possa ser comercializado. Embora existam outras línguas eletrônicas no mundo, a brasileira promete ser produzida com custo mais baixo – o que tornaria mais fácil popularizá-la (Foto: Embrapa / Instrumentação)

A tecnologia desta língua eletrônica foi totalmente desenvolvida no Brasil e seus inventores estão aperfeiçoando o aparelho para que ele possa ser comercializado. Embora existam outras línguas eletrônicas no mundo, a brasileira promete ser produzida com custo mais baixo – o que tornaria mais fácil popularizá-la (Foto: Embrapa / Instrumentação)

Para diferenciar cada líquido, é necessária uma análise computacional sofisticada dessa “impressão digital”. “Imagine pegar diversas amostras de vinho: elas são muito parecidas e o mesmo vinho também apresenta pequenas variações entre as garrafas”, conta Osvaldo. “Isso gera uma quantidade enorme de dados que seriam impossíveis de diferenciar sem ajuda da inteligência artificial”.

Se você considerou a possibilidade de se tornar um sommelier no futuro, não se preocupe: a língua não vai disputar essa função. Ela até poderá ser utilizada na gastronomia, mas os pesquisadores estão animados mesmo é com as possibilidades que o dispositivo abre em outras áreas, como a medicina e a preservação ambiental.