O reino vegetal tem suas delicadezas – como minúsculas flores de orquídea que medem poucos milímetros. Mas também tem plantas enormes, exuberantes, que chamam atenção por seu tamanho e suas cores. É curioso, mas uma dessas plantas passou despercebida pelos cientistas até bem pouco tempo: a maior planta carnívora das Américas foi descoberta apenas recentemente em Minas Gerais.
A Drosera magnifica, como foi chamada, faz parte do grupo de plantas conhecidas como orvalhinhas e tem mais de 1,5 metro de comprimento. Suas folhas, longas e finas, podem chegar a 24 centímetros de comprimento e são muito pegajosas – uma armadilha para capturar os pequenos insetos voadores dos quais se alimenta.
“Os insetos são atraídos e ficam presos nos tentáculos grudentos presentes nas folhas. Na tentativa de escapar, eles acabam tocando em mais tentáculos e ficando cada vez mais presos”, explica o botânico Paulo Gonella, da Universidade de São Paulo, um dos responsáveis pela descoberta. “Além disso, a folha dessa planta tem a capacidade de se movimentar, envolvendo o inseto em mais cola e matando-o sufocado”. Assustador, não acha? Pelo menos se você for um inseto…
Mas a Drosera magnifica é curiosa também pela história de sua descoberta. Paulo estava vendo fotografias de seus amigos nas redes sociais quando a planta lhe chamou atenção. “Eu estava conferindo as fotos e notícias dos meus amigos quando me deparei com uma foto que mostrava algumas plantas carnívoras do gênero Drosera no seu hábitat natural”, contou à CHC. “Elas eram muito maiores que as espécies que eu conhecia, além de terem folhas e flores diferentes”.
Com a pulga atrás da orelha que todo cientista deve ter, Paulo decidiu investigar a planta. Entrou em contato com o autor da foto, para saber quando e onde o vegetal havia sido observado, e foi até a montanha onde a planta foi fotografada, próximo a Governador Valadares, Minas Gerais.
Chegando lá, coletou algumas folhas para analisá-las com calma no laboratório. Ao compará-la com outras espécies de Drosera já descritas pelos cientistas – são mais de 250 em todo o mundo, e 30 só no Brasil –, confirmou a suspeita: estava diante de uma espécie até então desconhecida.
A história de Paulo e a planta carnívora mostra que descoberta científica não tem hora nem lugar. Pode até ser verdade que a maior parte do trabalho é realizada nos laboratórios, mas um bom pesquisador está sempre atento ao tema por que é apaixonado, até quando está apenas mantendo contato com os amigos na internet. “Plantas carnívoras sempre me fascinaram desde pequeno e, quando entrei na faculdade de biologia, comecei a estudá-las em detalhe”, diz Paulo. Descobrir uma espécie como esta deve ser uma recompensa e tanto!