Você já viu filmes em que os dinossauros aparecem como monstros enormes e assustadores, sempre prontos para caçar? Apesar das imagens que vemos no cinema, os dinossauros não eram máquinas assassinas na vida real: assim como os animais de hoje, se dedicavam a todo tipo de atividade em seu cotidiano, como dormir, brincar e namorar. Pense bem: imaginar um tiranossauro dorminhoco é bem diferente de pensar nele como um predador querendo nos transformar em jantar, não é?
Essa é justamente a visão sobre os dinossauros que o livro All yesterdays (‘Todos os ontens’, em tradução livre) quer passar. O paleoartista Cevdet Mehmet Kosemen, um dos autores da publicação, explica que as representações clássicas e assustadoras dos bichos não levam em conta as descobertas das últimas décadas.
O peloartista brasileiro Rodolfo Nogueira concorda: a representação dos dinossauros mudou muito desde que os primeiros fósseis foram encontrados. “No início, eles eram vistos como répteis lentos, com pernas de lagarto e sangue frio, seres quase mitológicos, como dragões”, lembra. “Depois, como animais ativos, ágeis e de sangue quente – e só hoje sabemos que, além disso, a maioria tinha penas”.
Erros e exercícios
Cevdet explica que um grande erro quando pensamos em dinossauros é ignorar que eles deveriam parecer bichos atuais em muitos aspectos. “Por exemplo, eles tinham tecidos moles, como gordura e cartilagem, que não são preservados nos fósseis. Porém, muitas ilustrações de dinossauros mostram apenas uma fina camada de pele em torno de seu esqueleto”, critica. “Isso os transforma num conjunto de ossos e dentes, deixando-os mais assustadores”.
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Outra questão comum é a representação dos dinossauros sempre em posições de ataque. “Se predadores de hoje, como leões, passam apenas uma parte de seu tempo caçando, por que os dinossauros seriam máquinas de matar?”, avalia o artista. “Não devemos reduzir esses animais a monstros, destacar apenas seu tamanho gigantesco e as armas de que possuíam – eles foram tão complexos e únicos como os animais de hoje.”
Os autores propõem, ainda, um exercício interessante: ilustram animais atuais como se fossem paleoilustradores do futuro, cometendo de propósito os mesmos erros. O resultado é muito curioso: imagens distorcidas de cisnes, rinocerontes, gatos e outros bichos. “É importante lembrar que mesmo as nossas imagens podem estar erradas. A especulação sempre estará presente no trabalho dos paleoartistas, já que alguns aspectos dos animais extintos jamais serão, de fato, conhecidos”, pondera.
Imaginando o passado
Talvez você esteja se perguntando: mas como um paleoilustrador desenha animais que estão extintos há milhões de anos? O segredo está em reunir as pistas disponíveis na natureza, nos fósseis e nos parentes atuais do animal, que servem de referência para aspectos em geral não preservados, como sua musculatura, escamas, penas e até cores, por exemplo. O desafio pode ser simples, como no caso do mamute, que já teve ossadas bem preservadas encontradas, ou uma barreira impossível. “Nunca conseguimos entender bem certos fósseis misteriosos, como os tubarões Helicoprion, com dentes em forma de serra”, admite Cevdet. “O papel da imaginação, orientada pelos dados científicos, é fundamental nesse processo.”