Esgoto para plantar

Esgoto é aquela água malcheirosa, cheia de detritos, que sobra depois que a usamos, por exemplo, no vaso sanitário, ou para lavar louça. Mas até isso pode ser útil para preservar o meio ambiente, sabia? Bem, claro que, se despejado na natureza sem cuidados, o esgoto causa um problema danado – polui rios, mares etc. Porém, cientistas criaram um jeito de aproveitar elementos do esgoto para plantar mudas de espécies do cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.

Mudas plantadas com a ajuda do lodo retirado do esgoto. (foto cedida pelo pesquisador)

Mudas plantadas com a ajuda do lodo retirado do esgoto. (foto cedida pelo pesquisador)

Antes de despejar o esgoto em um rio, por exemplo, ele precisa ser tratado, para retirar pelo menos uma parte das impurezas. Durante o tratamento, a sujeira sólida é retirada, com aspecto escuro e pegajoso – o lodo. Guardou o nome? Rico em matéria orgânica (restos de comida, por exemplo), é ele quem vai ser usado como fertilizante para as mudas, depois de passar por dois processos especiais: compostagem e vermicompostagem.

O primeiro é uma forma de transformar lixo em adubo com a ajuda de microrganismos. Já o segundo faz a mesma coisa, só que com a ajuda de minhocas. O resultado é um material rico em nutrientes de que as plantas precisam para crescer fortes e saudáveis.

Cientistas estudam como diferentes espécies de plantas do cerrado respondem ao novo método. (foto cedida pelo pesquisador)

Cientistas estudam como diferentes espécies de plantas do cerrado respondem ao novo método. (foto cedida pelo pesquisador)

O botânico Etenaldo Felipe Santiago, da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, e seus colaboradores decidiram testar o adubo feito a partir do lodo em diferentes espécies de plantas do cerrado. Para isso, eles selecionaram as sementes e realizaram diversos testes em laboratório e em viveiro, com e sem o adubo, verificando que plantas cresciam melhor com a ajuda do lodo. “O desafio está justamente nesse ponto: selecionar espécies vegetais nativas que respondem bem ao lodo”, ele disse à CHC.

Como as plantas são muito diferentes, houve espécies que não melhoraram sua germinação e crescimento com o adubo, mas muitas apresentaram um bom resultado. Por isso, Etenaldo está convencido de que o lodo é promissor para ser usado no reflorestamento. Agora, eles estudam como essas plantas vão responder quando plantadas ao ar livre e, principalmente, se algum resto tóxico do lodo poderá fazer mal ao meio ambiente.