Escritor por vocação


“Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem na sombra/
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.”
Utilizada na primeira estrofe do “Poema de sete faces”, a palavra francesa
gauche (lê-se gôch) significa “esquerdo”. Drummond considera-se
contrário à realidade que o cerca, e utiliza a literatura para se comunicar.

Faça como Drummond e deixe-se encantar pelas palavras! Antes de aprender a ler, o escritor já se fascinava com as letras e figuras do jornal de domingo. Ele disse, certa vez, que quando entrou para a escola, “já tinha a noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar”. Drummond descobria a literatura e os elogios dos professores o animavam a continuar. E vejam só: foi em um jornalzinho organizado pelo irmão que Drummond teve seu primeiro poema publicado: Onda . Era o início!

Aos 14 anos ele foi para um internato em Belo Horizonte, mas não completou os estudos no Colégio Arnaldo da Congregação do Verbo Divino por problemas de saúde. Drummond voltou para Itabira e freqüentou aulas particulares para não perder o ano. Recuperado, em 1918 foi para outro internato, desta vez o Colégio Anchieta da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo. Drummond estava cada vez mais habituado aos livros, muitos deles mandados de Belo Horizonte por seu irmão Altivo.

No ano seguinte, em 1919, Drummond se desentendeu com o professor de português e foi expulso do colégio. Ele chegou a declarar: “A saída brusca do colégio teve influência enorme no desenvolvimento dos meus estudos e de toda minha vida. Perdi a fé. Perdi tempo. E sobretudo perdi a confiança na justiça dos que me julgavam”. Mas Drummond não deixou de escrever por conta disso.

Em 1920, a família do escritor mudou-se para Belo Horizonte, e ele não parou mais. Publicou trabalhos no jornal Diário de Minas , dois anos depois foi premiado pelo conto “Joaquim no telhado”, e também contribuiu nas revistas Todos e Ilustração Brasileira . Mas Drummond não pensava em viver só de literatura. Por isso, em 1925, concluiu o curso de Farmácia. Desde pequeno ele ficava admirado com os frascos coloridos cheios de água verde, vermelha, amarela, que existiam nas farmácias de antigamente. Só que a idéia de ser farmacêutico não foi adiante e ele declarou: “Fico apenas na moldura/ do quadro de formatura.”

No mesmo ano, ele se casou com Dolores Dutra de Morais e voltou a Itabira. Lá, deu aulas de Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano, até que um convite para ser redator do jornal Diário de Minas o fez retornar a Belo Horizonte. Drummond era, além de escritor, um jornalista. A vida em Itabira já era passado. Mesmo assim, ele admitia certa saudade da vida com seus pais fazendeiros, Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade.

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro
(…)
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
(trecho de “Confidência do Itabirano“)

O ano de 1928 traz novos acontecimentos na vida do escritor. Vamos adiante!
 

 

 

Matéria publicada em 11.06.2002

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Elisa Martins

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