Entregues pelo voo

Você sabe dizer qual é a espécie de um inseto só de olhar para ele? Algumas já são velhas conhecidas, como o Aedes aegypti, mosquito que tem longas patas e listras brancas – famoso por ser transmissor da dengue. Mas a verdade é que identificar espécies diferentes apenas com a visão dá um trabalho danado, em especial com elas zanzando o tempo todo de lá pra cá.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo, no entanto, descobriram um jeito pra lá de eficiente (e engenhoso!) de identificar a espécie de um inseto apenas pelo movimento que ele faz com as asas. O sistema desenvolvido pelos cientistas é capaz de reconhecer até o sexo do inseto.

O método desenvolvido pelos pesquisadores consegue identificar a espécie do inseto com base nas suas características de voo. (Foto: nutmeg66 / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0)CC BY-NC-ND 2.0(/a))

O método desenvolvido pelos pesquisadores consegue identificar a espécie do inseto com base nas suas características de voo. (Foto: nutmeg66 / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0)CC BY-NC-ND 2.0(/a))

“Diferentes espécies de insetos movimentam as asas em frequências diferentes. Um inseto grande, como uma borboleta, bate as asas mais lentamente, já o inseto menor faz isso com mais velocidade; há uma série de fatores que influenciam nesse movimento”, conta Gustavo Batista, cientista de computação que participou da pesquisa.

Mas como o novo método foi desenvolvido? Primeiro, os cientistas montaram um aparelho para reconhecer o movimento das asas do inseto. A espécie desejada era colocada para voar dentro de uma caixa e um sensor óptico captava as perturbações que o bater das asas provocava. O número de vezes que o inseto bate as asas durante um determinado tempo, ou seja, a frequência do bater de asas, foi guardado em um banco de dados.

Aparato usado pelos pesquisadores para captar informações das características do voo dos insetos. (Foto: Reinaldo Mizutani)

Aparato usado pelos pesquisadores para captar informações das características do voo dos insetos. (Foto: Reinaldo Mizutani)

“Essa frequência arquivada no banco de dados, quando executada como áudio por um computador, é o próprio zumbido característico do voo do inseto. A diferença é que, com a captação pelo sensor ótico, conseguimos eliminar o ruído sonoro externo e que poderia atrapalhar tanto a catalogação dos sinais quanto o reconhecimento das espécies”, explica Gustavo.

Segundo o pesquisador, uma forma de usar essa tecnologia seria criar armadilhas que podem capturar e identificar que tipo de insetos existem em um determinado local, como nossa casa ou uma plantação no campo. Assim, a população pode descobrir que medidas devem ser tomadas para se livrar de insetos que possam trazer algum tipo de doença, como a própria dengue.