Homenzinhos verdes com antenas são a primeira imagem que fazemos de um extraterrestre. Mas você já parou para pensar que pode haver um ET no seu quintal? Não um ser vivo, mas uma rocha que veio do espaço: um meteorito!
Todos os dias, nosso planeta é bombardeado com rochas espaciais. Algumas delas conseguem vencer a camada protetora da atmosfera e chegar até nós. E tem gente que vive procurando esses presentes do céu. Um exemplo é o arqueólogo uruguaio Jose Maria Monzon, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um verdadeiro caçador de meteoritos!
CHC: Como é o trabalho de um caçador de meteoritos?
Jose Maria: Para mim é o melhor trabalho do mundo! Sou arqueólogo e a pesquisa de campo, feita fora da universidade, é minha paixão. Fiquei atraído pelos meteoritos por serem algo bem diferente do que os arqueólogos procuram normalmente. Mas a busca por essas rochas é muito parecida com a busca por sítios arqueológicos. O que eu acho mais legal e desafiante é procurar por meteoritos históricos, meteoritos antigos que estão registrados de alguma forma em documento antigos.
Como você planeja suas expedições e como escolhe os lugares onde vai procurar meteoritos?
Quando vou caçar meteoritos históricos, que geralmente são bem antigos, procuro informações sobre a sua queda no arquivo do Museu Nacional, no departamento de geologias das universidades, na revista do Observatório Nacional e nos jornais da época de sua queda. É um verdadeiro trabalho de investigação!
Quando o meteorito é mais recente, se caiu há cinco anos mais ou menos, procuro informações no próprio lugar onde ele foi visto cair. Saio perguntando paras as pessoas da cidade se elas viram alguma coisa, se têm alguma pista que possa me ajudar a planejar uma caçada.
Já se eu souber de um meteorito que caiu há pouquinho tempo, corro para o lugar da queda o mais rápido possível e começo a entrevistar as testemunhas do evento para poder mapear a trajetória do meteorito pelo céu e descobrir onde ele caiu.
Que tipo de instrumentos você usa em sua busca? Você sai sozinho ou acompanhado?
Não podem faltar em minha bagagem uma bússola e um aparelho de GPS, papel e lápis para anotar as pistas, lanterna para procurar quando estiver mais escuro e um detector de metais para ajudar a encontrar os meteoritos que contêm metal.
Na maioria das vezes, eu saio com uma equipe, pois a caçada, especialmente no meio das matas do Brasil, pode ser muito perigosa. Quando o local é menos perigoso eu vou sozinho ou até com o meu filho mais velho, o Camilo. Ele já participou da procura de meteoritos importantes, como o de São João de Nepomuceno e o de Santa Catarina, o mais difícil até hoje para mim.
Desde quando você é caçador de meteoritos e como foi que surgiu seu interesse por essa prática?
Eu fiquei interessado há uns 10 anos, quando trabalhava no Peru, na Universidade de São Marcos. Lá, conheci um americano que, junto com um uruguaio, procurava meteoritos no deserto. Eu estava trabalhando em um sítio arqueológico no deserto e os acompanhei durante alguns dias em sua busca. Foi aí que peguei o que meu filho chama de ‘febre de meteoro’!
Quais foram os seus achados mais importantes até hoje?
Desde que comecei a caçar meteoritos, encontrei vários no Brasil, na Argentina e no Peru. Mas o meu xodó é o meteorito de Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul, o maior meteorito do tipo condrito já encontrado até hoje no Brasil. Fui procurá-lo alguns anos depois da sua passagem pelo céu da cidade, evento que deixou todos com muito medo, pois a terra tremeu e alguns vidros se quebraram. Foi uma longa pesquisa até encontrar o local onde ele caiu. Entrevistei pessoas, procurei informações nos jornais e o que mais ajudou foram as palestras que fiz nas escolas da região.
Em uma das palestras, o pai de um aluno contou que tinha duas pedras diferentes que seu pai tinha achado na beira da lagoa Merim. Fiquei muito curioso e pedi para ver as pedras. Ele só estava com uma delas e era mesmo um meteorito! A outra pedra tinha sido levada por um professor aposentado na Universidade do Rio Grande do Sul e tinha enfeitando o quintal de sua casa por muitos anos, até que em 2012 eu a recuperei. Depois disso, em 2013, um pescador retirou de sua rede mais um pedaço do maior condrito do Brasil.
O que você faz com os meteoritos que encontra?
Todos os meteoritos que encontro são levados ao Museu Nacional no Rio de Janeiro para serem analisados. Se ficar provado que são mesmo meteoritos, o museu fica com um pedaço e eu com outro. Às vezes vendo a minha parte para poder ter dinheiro para fazer novas buscas.
Que dicas você dá para as crianças que quiserem procurar por meteoritos?
Existe uma cartilha muito legal que orienta as crianças a identificar rochas diferentes que podem ser meteoritos. Boa caça!