É pau, é pedra

Você já ouviu falar de fóssil de dinossauros. E de fóssil de árvores? Assim como os animais, as plantas também podem passar pelo processo de fossilização, que as deixa preservadas por milhares de anos e permite que os pesquisadores descubram com era a flora do passado. Já pensou que legal encontrar algo assim?

No interior de São Paulo, onde há muitas rochas antigas – de milhares de anos atrás –, os fazendeiros vivem topando com fósseis de troncos de árvores nos pastos de gado. Por serem duros como pedra, mas com a aparência de um tronco comum, eles são chamados popularmente de pau-pedra.

Troncos fósseis de 270 milhões de anos foram coletados no interior de São Paulo (Foto: Rafael Faria)

Troncos fósseis de 270 milhões de anos foram coletados no interior de São Paulo (Foto: Rafael Faria)

“Muitas vezes, os fazendeiros olham para essas peças como enfeites para a fazenda, mas, para nós, elas são vestígios importantes do passado”, conta o biólogo Rafael Faria, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, que estuda esses materiais de perto. Ele encontrou vários fósseis de troncos com 270 milhões de anos nas cidades paulistas de Piracicaba, Saltinho, Rio Claro, Santa Rosa de Viterbo, Angatuba, Conchas e Laras.

Essas árvores são tão antigas que já estavam aqui antes mesmo de os dinossauros terem aparecido! Elas viveram no chamado período Permiano, quando os continentes ainda não tinham se separado.

A maioria dos fósseis de árvores descobertos pelo biólogo era de antepassados da araucária, pinheiro tradicional da Mata Atlântica que hoje está ameaçado de extinção por causa do corte ilegal (Foto: Rafael Faria)

A maioria dos fósseis de árvores descobertos pelo biólogo era de antepassados da araucária, pinheiro tradicional da Mata Atlântica que hoje está ameaçado de extinção por causa do corte ilegal (Foto: Rafael Faria)

Durante a pesquisa, Rafael teve uma surpresa: encontrou restos de fungos nos troncos, o que indica que as suas árvores pré-históricas também estavam sob ameaça. “Os fungos se alimentam de matéria em decomposição, matéria morta”, explica. “Por isso, encontrá-los mostra que existia muita coisa morrendo na floresta. Devia ser um momento muito difícil para essas árvores.”

A diferença é que as árvores pré-históricas não estavam ameaçadas pelos humanos – afinal, nós nem existíamos! O biólogo acredita que a fauna e a flora da região estavam morrendo por falta de água.

Apesar de contar uma história bem antiga, Rafael ressalta que seu estudo pode ajudar a compreender melhor o meio ambiente de hoje. “O que nos resta de pinheiros nativos no Brasil são basicamente as araucárias, que já estão ameaçadas. Compreender a história evolutiva dos parentes extintos dessas árvores nos traz mais informações para lidar com as espécies atuais. Ao olhar para os vestígios do passado, temos a capacidade de entender o presente e mudar o futuro”, aposta.