Doentes no zoológico

Tetéia era uma senhora corpulenta e carismática com 53 anos e mais de três toneladas quando morreu de câncer. Estamos falando de uma fêmea de hipopótamo do zoológico de São Paulo. Você sabia que os animais silvestres também podem desenvolver a doença?

A morte da xodó do zoológico despertou nos veterinários da instituição a vontade de estudar melhor o câncer nos animais. Assim, surgiu uma parceria entre eles e o Hospital A.C. Camargo, também em São Paulo, para montar uma coleção com todos os tumores dos animais da instituição.

Hipopótamo

Tetéia foi uma das vítimas do câncer no zoológico de São Paulo. Agora, seus tumores serão estudados por médicos (Imagem: Carlos Nader/Zoológico de São Paulo)

No zoológico, os veterinários recolhem amostras das células doentes dos bichos e as enviam para o hospital, onde médicos as estudam para compreender o que causou a doença e como ela se desenvolveu.

Guardar os tumores pode parecer um pouco esquisito, mas a análise desse material pode ajudar no desenvolvimento de novas formas de tratamento para a doença nos bichos e também em humanos. Até agora, já foram recolhidas células doentes de mais de 12 bichos, como tigre, lagarto, cutia, tamanduá e pato-corredor.

Diretor técnico-científico do zoológico, o veterinário João Batista da Cruz conta que esse estudo é muito importante, sobretudo, porque os casos da doença entre os animais estão crescendo. Em 10 anos, foram 30 casos de câncer em mamíferos, seis em répteis e sete em aves.

João explica que, por mais triste que seja, é muito difícil descobrir o que causa a doença nos bichos. Pode ser influência dos vegetais que eles comem, que, como os que comemos, contêm agrotóxicos, ou até do ar poluído que respiram. Mas também pode ser que seja só por causa da velhice deles.

“Não podemos apontar uma causa, mas os animais de zoológico tendem a viver mais”, explica João. “Aqui eles têm uma vida tranquila; não precisam caçar ou fugir de predadores, têm assistência médica o tempo todo e, à noite, têm um abrigo seguro. Assim, eles chegam a ficar bem velhinhos e, por isso, têm mais chance de ficarem doentes”.

A própria Tetéia, por exemplo, viveu até os 53 anos, enquanto um hipopótamo solto na natureza vive, em média, 35 anos.

Desafio de peso
Toda vez que um animal do zoo for diagnosticado com câncer, as células doentes dele serão enviadas para análise no hospital. Mas, para isso, o bicho tem que ser examinado, é claro.

Imagine só examinar um animal grande e pesado como um hipopótamo! Que o diga o veterinário João: “Esse é o nosso maior desafio”, diz. “Para uma pessoa, você pode pedir que ela fique na posição que você quer para fazer os exames. Já fazer um raio X em um animal grande é outra história! Nós anestesiamos o bicho para o exame, mas pode acontecer de ele cair deitado justamente em cima do lado que queremos examinar. Aí você já sabe, a tarefa se torna impossível!”

Matéria publicada em 22.03.2012

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Sofia Moutinho

Curiosidade é meu lema! Desde pequena busco respostas para as perguntas mais intrigantes. Melhor que estar por dentro da ciência, só compartilhar com vocês esse conhecimento!

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