Desenterrando o passado

Na CHC 254, você leu sobre a peste negra, uma doença tão perigosa que levou o sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz a comprar ratos para evitar que as pulgas dos roedores a transmitissem para os seres humanos. Agora, você vai conhecer uma descoberta recente feita durante as obras de um metrô em Londres, na Inglaterra, onde arqueólogos encontraram 25 esqueletos de pessoas que morreram em decorrência da peste há mais de 600 anos.

Escavações em uma obra de metrô revelaram um antigo cemitério de vítimas da peste negra em Londres, Inglaterra.

Escavações em uma obra de metrô revelaram um antigo cemitério de vítimas da peste negra em Londres, Inglaterra. (foto: Museum of London Archaeology)

Durante a escavação, arqueólogos encontraram esqueletos de 13 homens, três mulheres e duas crianças – os outros sete ainda não tiveram idade nem sexo identificados. A descoberta foi feita no ano passado, mas só agora a equipe anunciou ter encontrado o material genético da bactéria Yersinia pestis, microrganismo causador da peste negra, nos dentes desses esqueletos.

Após analisar os ossos resgatados, os pesquisadores identificaram que a morte aconteceu em 1348. Segundo o arqueólogo Jay Carver, que participa do projeto Crossrail de expansão do metrô, esse achado resolve um mistério de mais de 650 anos, pois, durante todo esse tempo, não se sabia onde estava o primeiro cemitério de vítimas da peste negra de Londres. Transmitida para humanos por meio de pulgas presentes em ratos, a peste negra matou milhões de pessoas na Europa durante o século 14.

Além disso, a descoberta abre portas para que os cientistas que estudam a Yersinia pestis conheçam a evolução da bactéria ao longo da história. “Cientistas estão buscando mapear o material genético completo da bactéria e nossa pesquisa vai ajudar nesse aspecto, além de ajudar a entender como a bactéria evoluiu”, disse Jay.

Transmitida para humanos por meio de pulgas presentes em ratos, a peste negra matou milhões de pessoas na Europa durante o século 14.

Transmitida para humanos por meio de pulgas presentes em ratos, a peste negra matou milhões de pessoas na Europa durante o século 14. (foto: Robby Whitfield)

Nos dias de hoje
Outro fato curioso é a possibilidade de conhecer melhor as pessoas que estavam vulneráveis à doença naquela época. “Muitos esqueletos estavam desnutridos e vários tinham problemas na coluna, caracterizando pessoas envolvidas com trabalho manual pesado”, completa o arqueólogo. Nessa época, a morte era quase certa para quem era infectado pela bactéria, mas, hoje, o tratamento com antibióticos é eficaz e leva à cura.

Segundo a bióloga Tereza Cristina Balbino, da Fundação Oswaldo Cruz, descobertas desse tipo só são possíveis graças à capacidade que os cientistas têm atualmente de estudar o material genético dos microrganismos. “Novas tecnologias de DNA, hoje disponíveis aos cientistas, permitem esclarecer fatos não desvendados, perguntas não respondidas e até mesmo confirmar casos ocorridos em décadas e até séculos passados”, celebra a pesquisadora.