De volta ao lar!

A maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca, é a casa de diversas espécies de animais. Mas havia uma que há muito tempo não se via por lá – as cutias. Foi por causa disso que surgiu o interesse de reintroduzir esses animais ao seu habitat natural. Para essa tarefa, o Parque Nacional da Tijuca – que cuida da floresta – contou com a ajuda dos biólogos Fernando Fernandez, Alexandra Pires e Bruno Cid, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As cutias estão de volta à Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro (foto: Rui Salaverry).

O primeiro passo desse trabalho foi achar cutias para serem reintroduzidas e elas foram encontradas na Praça da República, mais conhecida como Campo de Santana, no centro do Rio de Janeiro. Lá vivem muitas, mas foi preciso fazer uma seleção dos animais. As que eram muito velhas ou muito jovens não puderam ser escolhidas e, dentre as adultas, as mais fortinhas foram as selecionadas para serem levadas para a floresta “Não podiam ser muito velhinhas porque, provavelmente, não iam aguentar o processo de reintrodução e também não poderiam ser novas demais porque elas precisam receber um colar e se fosse um bicho muito pequeno isso não seria possível”, disse Alexandra.

Do Campo de Santana elas foram para o Jardim Zoológico. Lá os veterinários verificaram se não tinham qualquer doença. “Elas ficam esse tempo no zoológico justamente para fazer essa bateria de exames. Se elas tivessem alguma coisa difícil de detectar, nesse tempo apareceriam os sintomas”, disse Fernando sobre a estadia, que durou cerca de um mês.

Do zoológico, as cutias foram levadas para a nova casa, mas ainda não era a hora de ganharem liberdade. Passaram um tempo em uma área cercada: “O cercado tem várias funções, como fazer o animal se acostumar com o clima, dar chance de eles socializarem e se juntarem em casais e uma coisa muito importante que é o bicho ganhar peso”, contou Bruno. Depois dessa fase de adaptação, finalmente as cutias foram soltas na floresta. Ao todo foram introduzidos oito animais, mas esse número já aumentou para 10! Duas fêmeas tiveram três filhotes, mas um adulto morreu de causas ainda não descobertas.

O colar que foi colocado nas cutias traz um aparelho radiotransmissor, que ajuda os cientistas a localizar esses animais e monitorar o seu desenvolvimento (foto: Marco Terranova).

Os biólogos esperam que as cutias cumpram um importante papel na floresta: elas são ótimas dispersoras de sementes (assista ao vídeo e comprove!). Mas a vida em liberdade traz também alguns perigos para esses animais. As mamães têm que ser bastante cuidadosas com seus filhotes, pois eles podem ser alvo de alguns predadores como jibóias, quatis ou até mesmo macacos que, por serem muito territorialistas, podem se mostrar bastante agressivos. “Para as cutias adultas tem os cachorros do mato, mas não acredito que sejam um problema. Acho que a maior ameaça é o risco delas serem atropeladas, isso acontece muito em processos de reintrodução” disse Bruno Cid.

Um dos filhotes que já nasceram na Floresta da Tijuca (foto: Marco Terranova).

Enquanto as cutias passeiam pela nova casa, os biólogos trabalham monitorando os animais por meio de seus colares. Um aparelho radiotransmissor é usado para localizá-las e monitorar seu desenvolvimento na vida selvagem.

 

Apesar de todo o esforço desses pesquisadores, ainda é muito cedo para comemorar o sucesso do projeto.  Até agora, no entanto, os resultados são animadores, pois as cutias já conseguiram se reproduzir, o que é considerado muito importante. Quem sabe daqui a um tempo, elas não se tornem figurinha fácil lá na Floresta da Tijuca?