Os piolhos formam um grupo de insetos conhecido como Phthiraptera (“piolho sem asas”, em grego), que possui cerca de cinco mil espécies conhecidas. Todas elas vivem sobre o corpo de aves e mamíferos, alimentando-se de sangue, penas, pelos ou pele.
Como o nome do grupo já diz, nenhum Phthiraptera tem asas. Ainda bem! Mesmo assim, quando dois hospedeiros se aproximam, os piolhos podem passar de um para o outro. É por isso que, quando alguém na escola tem piolhos, todo mundo deve se cuidar.
Nós, seres humanos, somos atazanados por duas espécies diferentes de piolhos: os piolhos-da-cabeça e piolhos-do-corpo, chamados Pediculus humanus (“piolho humano” em latim) e os piolhos-do-púbis ou “chatos”, que gostam de viver na região púbica e por isso ganharam o nome científico de Pthirus pubis (“piolho púbico” em grego e latim).
Além dessas, existem no mundo mais uma espécie de Pediculus e outra de Pthirus. Pthirus gorillae, como o nome já sugere, incomoda a vida dos gorilas. Por outro lado, os piolhos dos chimpanzés pertencem à espécie Pediculus schaeffi – seu nome é uma homenagem a Ernst Schäff, diretor do Zoológico de Hannover (Alemanha) na época em que a espécie foi encontrada pela primeira vez, em animais daquele parque.
E veja que curioso: após uma série de pesquisas usando informações do DNA das duas espécies de Pediculus, os cientistas concluíram que o ancestral comum mais recente de Pe. humanus e Pe. schaeffi – o “avô” que as duas espécies tinham em comum – viveu há cerca de seis milhões de anos, período em que provavelmente viveu o ancestral comum mais recente de humanos e chimpanzés. Da mesma forma que na linha evolutiva os chimpanzés são nossos “parentes” vivos mais próximos, nossos piolhos também são os “parentes” vivos mais próximos dos piolhos deles.
Já a história dos Pthirus é diferente. Os resultados das pesquisas indicam que há três ou quatro milhões de anos, os humanos primitivos “pegaram” piolhos dos gorilas. Com o passar do tempo, nosso chatos evoluíram para uma nova espécie, Pthirus pubis.
Os piolhos usam os pelos ou as penas dos hospedeiros para viverem. No caso dos humanos, à medida que os pelos foram sendo perdidos durante a evolução, os piolhos foram ficando sem lugar para morar. Por fim, os Pediculus humanus ficaram restritos à cabeça, e os Pthirus pubis passaram a viver na região púbica, que apresenta pelos nos humanos adultos.
Mas existe ainda uma terceira possibilidade para os piolhos que vivem junto aos seres humanos: habitar nossas roupas! É o caso de uma subespécie de Pediculus humanus.
Tudo indica que, quando os humanos inventaram as roupas, originalmente feitas de couro e pelos de animais, alguns piolhos passaram a morar nas vestimentas, alimentando-se do sangue do corpo dos hospedeiros. E pasme: foi a partir do DNA desses piolhos que cientistas conseguiram estimar quando os seres humanos passaram a vestir roupas – entre 83 e 170 mil anos atrás.
O papo está bom, mas preciso parar por aqui. Essa conversa sobre piolhos já está me dando coceira!
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!