Pés na (sua) cabeça

“Ai, que coceira na cabeça!” Será que são… piolhos?! Muita gente já passou por isso – é muito irritante!

Os piolhos formam um grupo de insetos conhecido como Phthiraptera (“piolho sem asas”, em grego), que possui cerca de cinco mil espécies conhecidas. Todas elas vivem sobre o corpo de aves e mamíferos, alimentando-se de sangue, penas, pelos ou pele.

A palavra “piolho” é, provavelmente, uma variação do latim <i>pediculus</i>. Já os indígenas brasileiros que falavam tupi davam a esses bichos o nome de <i>muquirana</i> – uma variação de <i>mucui-rana</i> (“parecido com mucuí). Mucuí, mocoim, mucuim ou micuim (“roedor miúdo”) é como os indígenas chamavam um tipo de carrapatinho bem pequeno, que até lembra um piolho. (foto: Gilles San Martin / CC BY-SA 2.0)

A palavra “piolho” é, provavelmente, uma variação do latim pediculus. Já os indígenas brasileiros que falavam tupi davam a esses bichos o nome de muquirana – uma variação de mucui-rana (“parecido com mucuí). Mucuí, mocoim, mucuim ou micuim (“roedor miúdo”) é como os indígenas chamavam um tipo de carrapatinho bem pequeno, que até lembra um piolho. (foto: Gilles San Martin / CC BY-SA 2.0)

Como o nome do grupo já diz, nenhum Phthiraptera tem asas. Ainda bem! Mesmo assim, quando dois hospedeiros se aproximam, os piolhos podem passar de um para o outro. É por isso que, quando alguém na escola tem piolhos, todo mundo deve se cuidar.

Nós, seres humanos, somos atazanados por duas espécies diferentes de piolhos: os piolhos-da-cabeça e piolhos-do-corpo, chamados Pediculus humanus (“piolho humano” em latim) e os piolhos-do-púbis ou “chatos”, que gostam de viver na região púbica e por isso ganharam o nome científico de Pthirus pubis (“piolho púbico” em grego e latim).

Os piolhos-da-cabeça vivem nos cabelos e se alimentam do sangue do couro cabeludo. Pequeninos, medem em média três milímetros de comprimento. Seus ovos são chamados de lêndeas. (foto: Gilles San Martin / CC BY-SA 2.0)

Os piolhos-da-cabeça vivem nos cabelos e se alimentam do sangue do couro cabeludo. Pequeninos, medem em média três milímetros de comprimento. Seus ovos são chamados de lêndeas. (foto: Gilles San Martin / CC BY-SA 2.0)

Além dessas, existem no mundo mais uma espécie de Pediculus e outra de Pthirus. Pthirus gorillae, como o nome já sugere, incomoda a vida dos gorilas. Por outro lado, os piolhos dos chimpanzés pertencem à espécie Pediculus schaeffi – seu nome é uma homenagem a Ernst Schäff, diretor do Zoológico de Hannover (Alemanha) na época em que a espécie foi encontrada pela primeira vez, em animais daquele parque.

E veja que curioso: após uma série de pesquisas usando informações do DNA das duas espécies de Pediculus, os cientistas concluíram que o ancestral comum mais recente de Pe. humanus e Pe. schaeffi – o “avô” que as duas espécies tinham em comum – viveu há cerca de seis milhões de anos, período em que provavelmente viveu o ancestral comum mais recente de humanos e chimpanzés. Da mesma forma que na linha evolutiva os chimpanzés são nossos “parentes” vivos mais próximos, nossos piolhos também são os “parentes” vivos mais próximos dos piolhos deles.

Já a história dos Pthirus é diferente. Os resultados das pesquisas indicam que há três ou quatro milhões de anos, os humanos primitivos “pegaram” piolhos dos gorilas. Com o passar do tempo, nosso chatos evoluíram para uma nova espécie, Pthirus pubis.

Os “chatos” vivem nos cílios ou na região púbica de humanos adultos, e ganharam esse nome justamente por serem bichinhos bastante incômodos. Medem cerca de dois milímetros, e o formato do seu corpo deu-lhes o nome de <i>crab-louse</i> (piolho-caranguejo) em inglês. (foto: Josef Reischig / CC BY-SA 3.0)

Os “chatos” vivem nos cílios ou na região púbica de humanos adultos, e ganharam esse nome justamente por serem bichinhos bastante incômodos. Medem cerca de dois milímetros, e o formato do seu corpo deu-lhes o nome de crab-louse (piolho-caranguejo) em inglês. (foto: Josef Reischig / CC BY-SA 3.0)

Os piolhos usam os pelos ou as penas dos hospedeiros para viverem. No caso dos humanos, à medida que os pelos foram sendo perdidos durante a evolução, os piolhos foram ficando sem lugar para morar. Por fim, os Pediculus humanus ficaram restritos à cabeça, e os Pthirus pubis passaram a viver na região púbica, que apresenta pelos nos humanos adultos.

Mas existe ainda uma terceira possibilidade para os piolhos que vivem junto aos seres humanos: habitar nossas roupas! É o caso de uma subespécie de Pediculus humanus.

Os piolhos-do-corpo são tão parecidos com os piolhos-da-cabeça que ambos são considerados subespécies de uma mesma espécie. Os piolhos-do-corpo causaram muitos transtornos durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), quando infestavam as roupas dos soldados, picavam seus corpos, e transmitiam doenças graves como o tifo e a febre-de-trincheira. (foto: Centers for Disease Control and Prevention's PHIL)

Os piolhos-do-corpo são tão parecidos com os piolhos-da-cabeça que ambos são considerados subespécies de uma mesma espécie. Os piolhos-do-corpo causaram muitos transtornos durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), quando infestavam as roupas dos soldados, picavam seus corpos, e transmitiam doenças graves como o tifo e a febre-de-trincheira. (foto: Centers for Disease Control and Prevention’s PHIL)

Tudo indica que, quando os humanos inventaram as roupas, originalmente feitas de couro e pelos de animais, alguns piolhos passaram a morar nas vestimentas, alimentando-se do sangue do corpo dos hospedeiros. E pasme: foi a partir do DNA desses piolhos que cientistas conseguiram estimar quando os seres humanos passaram a vestir roupas – entre 83 e 170 mil anos atrás.

O papo está bom, mas preciso parar por aqui. Essa conversa sobre piolhos já está me dando coceira!

Matéria publicada em 04.04.2014

COMENTÁRIOS

  • PEDRO

    PIOLHO E AULA NOJENTA

    Publicado em 6 de julho de 2020 Responder

  • Felipe

    Que noivo fila da pura

    Publicado em 21 de abril de 2022 Responder

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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