Para escutar um ET

Imagine que um aluno tenha entrado na sua turma da escola, vindo de um país distante – vamos inventar que da “Eslobováquia”: uma nação imaginária cujo idioma, o “eslobovaco”, não tem nenhuma relação com o português ou com qualquer outro idioma. Você o vê quieto num canto durante o recreio e se aproxima. Ele olha para você e faz um som estranho com o nariz. Como saber se seu novo colega de classe está tentando se comunicar ou simplesmente espirrando de um jeito esquisito?


Na tentativa de descobrir sinais de vida inteligente fora da Terra, cientistas do projeto SETI (da sigla em inglês para “busca por inteligência extraterrestre”) enfrentam um problema parecido. Nós recebemos, de todo o espaço, luz e outras radiações (raios-X, radiação ultravioleta, radiação infravermelha, micro-ondas, ondas de rádio etc.) vindas de estrelas e outros objetos celestes. Se, ao redor de alguma dessas estrelas, houver uma civilização inteligente, como ela poderia se comunicar conosco?

Uma possibilidade é enviar um sinal (luz ou qualquer outra radiação) que não fosse um “espirro”. Isto é, que nós soubéssemos que não poderia ter sido produzido por algum fenômeno natural. O Sol e muitas outras estrelas emitem luz branca, que é uma combinação de luz de todas as cores do arco-íris. Assim, se uma civilização em outro ponto da galáxia nos mandasse simplesmente um sinal de luz branca, não saberíamos diferenciar da luz que recebemos de estrelas, por exemplo, e não funcionaria. Seria como tentar se comunicar com alguém num show de rock usando, para isso, uma guitarra elétrica. Eles teriam que ser mais espertos.


Uma das ideias que surgiram foi ver se alguém não está apontando um laser na nossa
direção, como alguns torcedores mal-educados, infelizmente, fazem com o goleiro do time adversário em jogos de futebol. O goleiro – que tem toda razão de ficar chateado, porque um laser no olho pode fazer muito mal – pode ter certeza de que é um torcedor que está apontando um laser em sua direção porque nem a Lua, nem os planetas, nem nuvens de gás no espaço, nem mesmo um vaga-lume ou qualquer outra coisa é capaz de produzir naturalmente um feixe de laser. Com certeza é alguém que pertence, para o bem ou para o mal, a uma civilização capaz de construir um laser.

Um laser muito potente apontado na direção da Terra poderia ser detectado daqui, pois pareceria mais brilhante, ao olharmos exatamente naquela direção, do que a estrela próxima à qual vive a civilização. Ou seja, ele funcionaria como um farol.

Radiotelescópio nas Ilhas Virgens norte-americanas (foto: www.nrao.edu).

Outra ideia envolve usar radiotelescópios: telescópios que “enxergam” micro-ondas e ondas de rádio. Eles seriam apontados para direções no céu onde há estrelas parecidas com o Sol e nós estudaríamos a radiação recebida que tivesse alguma característica específica (saiba que radiação poderia ser essa no quadro abaixo).

Na mira de um tipo de telescópio diferente
Na busca por sinais extraterrestres, que tipo de radiação poderia ser alvo dos radiotelescópios? Para alguns cientistas, uma forte candidata vem do hidrogênio, o elemento químico mais simples e, por isso mesmo, mais abundante do universo.
Como ocorre com todos os átomos, o de hidrogênio não emite qualquer radiação, mas um conjunto característico de radiações. Algo que é, digamos, sua marca registrada.
Pois bem! No conjunto de radiações que o átomo de hidrogênio pode emitir, há uma que é considerada fundamental. Seu nome? “Linha de 21 centímetros”. Como é preciso algum avanço tecnológico para conhecê-la, os cientistas buscam estudar as radiações desse tipo que recebemos na Terra em busca de um padrão. Afinal, quem sabe esse foi o jeito escolhido pelos ETs para dizer “olá”?

No entanto, seja de que maneira um sinal de vida extraterrestre fosse detectado, seria preciso ainda decifrá-lo, ou seja, traduzi-lo. Isto seria difícil – como seria difícil pra você entender eslobovaco mesmo depois de ter certeza de que o seu novo amigo não estava simplesmente espirrando –, mas não impossível. Até hoje, não conseguimos distinguir nenhuma mensagem ou sinal na luz e outras radiações vindas do espaço. O que não quer dizer que não possam existir outras civilizações lá fora. Pode ser que, como um engraçadinho já disse, o maior indício de que as civilizações extraterrestres são inteligentes é o fato de não fazerem contato com a gente.

 

Beto Pimentel
Colégio de Aplicação
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 24.03.2011

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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