Os reis do pedaço

Em 1902, o caçador de fósseis Barnum Brown desenterrou, no noroeste dos Estados Unidos, os restos de um grande dinossauro. O material foi enviado para o Museu Americano de História Natural, para ser analisado pelo paleontólogo Henry Osborn, grande especialista no estudo desses animais extintos.

Embora apenas alguns ossos tivessem sido achados, eles davam indícios de terem pertencido ao maior dinossauro carnívoro já encontrado até então. Afinal, a “canela” sozinha media um metro!

Os tiranossauros viveram entre 68 e 66 milhões de anos atrás, no finalzinho do período Cretáceo, tendo sido uma das últimas espécies de dinossauros a existir. Esses grandalhões chegavam a medir 12 metros de comprimento e 4 metros de altura. (foto: Henrique C. Costa / http://goo.gl/dT7QEK)CC BY-SA 2.0)

Os tiranossauros viveram entre 68 e 66 milhões de anos atrás, no finalzinho do período Cretáceo, tendo sido uma das últimas espécies de dinossauros a existir. Desde sua descoberta, muitos novos fósseis foram achados, e hoje sabemos que esses grandalhões chegavam a medir 12 metros de comprimento e 4 metros de altura. (foto: Henrique C. Costa /CC BY-SA 2.0)

Três anos depois, Osborn apresentou os resultados de sua pesquisa. Não era apenas uma espécie nova para ciência, mas também um gênero diferente. E, devido ao seu tamanho avantajado, o bichão ganhou o nome Tyrannosaurus rex, ou “rei lagarto tirano”, em grego.

Apesar do nome, os tiranossauros e todos os outros dinossauros (“lagartos terríveis”, em grego) não eram lagartos, mas um grupo mais aparentado aos jacarés e, acredite, às aves.

Desde sua descoberta, o Tyrannosaurus rex se tornou a espécie de dinossauro mais famosa de todos os tempos. Mas a verdade é que seu reinado como “o maior carnívoro” não durou para sempre.

Os espinossauros eram dinossauros semiaquáticos, ou seja, passavam boa parte do tempo dentro da água. Essas incríveis criaturas viveram há cerca de 100 milhões de anos atrás, bem antes dos tiranossauros surgirem. (foto: Mike Hettwer / (http://goo.gl/Gsfegr)

Os espinossauros eram dinossauros semiaquáticos, ou seja, passavam boa parte do tempo dentro da água. Essas incríveis criaturas viveram há cerca de 100 milhões de anos atrás, bem antes dos tiranossauros surgirem. (foto: Mike Hettwer /National Geographic)

Em 1915, o paleontólogo alemão Ernst Stromer descreveu um novo gênero e espécie, com base em fósseis encontrados em 1912 no Egito: o Spinosaurus aegyptiacus, ou “lagarto com espinhos do Egito”, em grego. Esse nome curioso se deve à presença de estruturas semelhantes a longos espinhos nas vértebras desse dinossauro.

Inicialmente, apenas alguns ossos de Spinosaurus eram conhecidos, o que tornava difícil estimar seu tamanho. Com o passar dos anos, novos fósseis foram descobertos, o que permitiu aos especialistas ter uma ideia melhor de quanto mediam os indivíduos dessa espécie. Hoje, sabemos que um espinossauro adulto podia chegar a 15 metros (talvez até mais) de comprimento!

Os giganotossauros (acima) dominaram parte da atual Argentina há 97 milhões de anos. Antes dele, quem mandava no pedaço eram os tiranotitãs (abaixo), que passeavam por lá mais de 110 milhões de anos atrás. (fotos: Domínio Público e Tecnópolis Argentina / http://goo.gl/NlR88h)CC BY 2.0)

Os giganotossauros (acima) dominaram parte da atual Argentina há 97 milhões de anos. Antes dele, quem mandava no pedaço eram os tiranotitãs (abaixo), que passeavam por lá mais de 110 milhões de anos atrás. (fotos: Domínio Público e Tecnópolis Argentina /
CC BY 2.0)

Não bastasse o Spinosaurus, o T. rex perdeu seu posto de maioral também para outras espécies descobertas durante o século 20 e no início do século 21. Uma delas, o Carcharodontosaurus saharicus (“lagarto de dentes afiados do Saara”), foi descoberta em 1925 onde hoje fica o deserto do Saara. Os dinossauros dessa espécie viveram 100 milhões de anos atrás e chegavam a 13 metros de comprimento.

Na América do Sul também foram desenterrados alguns grandalhões. Em 2005, duas espécies foram descobertas na Argentina. A primeira foi Giganotosaurus carolinii, ou “gigante lagarto do sul de Carolini”. Seu nome faz referência três coisas: seu tamanhão, que batia os 14 metros de comprimento, o fato de ter sido descoberto no hemisfério sul, e uma homenagem a Rúben Carolini, que encontrou os fósseis e os levou até os paleontólogos.

Outro colosso argentino é o Tyrannotitan chubutensis, que media até 13 metros de comprimento. Seu nome pode ser traduzido como “titã tirano de Chubut”. Os titãs eram deuses gigantes da mitologia grega; e Chubut é a região onde os fósseis do dino foram encontrados.

Para terminar, que tal um grandalhão brasileiro? O Oxalaia quilombensis viveu 98 milhões de anos atrás, e foi descoberto no Maranhão em 2011 por pesquisadores do Museu Nacional. Apenas um osso foi encontrado, o suficiente para saber que se tratava de um gênero e espécie desconhecidos pela ciência. O formato do osso permitiu até mesmo reconhecer que O. quilombensis era aparentado ao Spinosaurus.

Isto é tudo que se conhece do maior dinossauro carnívoro brasileiro já descoberto, o <i>Oxalaia quilombensis</i>. É a ponta do focinho, aqui vista de baixo. Repare nos espaços onde ficavam os dentes! Comparando o tamanho desse osso – que tem 20 centímetros – com os de outros dinossauros, os pesquisadores estimam que o <i>O. quilombensis</i> media entre 12 e 14 metros de comprimento! (foto: Anais da Academia Brasileira de Ciência /<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0"> CC BY-NC 4.0</a>

Isto é tudo que se conhece do maior dinossauro carnívoro brasileiro já descoberto, o Oxalaia quilombensis. É a ponta do focinho, aqui vista de baixo. Repare nos espaços onde ficavam os dentes! Comparando o tamanho desse osso – que tem 20 centímetros – com os de outros dinossauros, os pesquisadores estimam que o O. quilombensis media entre 12 e 14 metros de comprimento! (foto: Anais da Academia Brasileira de Ciência /
CC BY-NC 4.0

O nome Oxalaia remete a Oxalá, a mais poderosa divindade masculina das religiões africanas que vieram para o Brasil com os escravos. Já quilombensis significa “do quilombo” – os quilombos eram comunidades de escravos que fugiam do trabalho forçado. Hoje, os descendentes desses escravos que vivem nos antigos quilombos são conhecidos como quilombolas, e o fóssil de Oxalaia quilombensis foi encontrado justamente na terra de quilombolas!

Bem, deu para notar que desde sua descrição em 1905, o Tyrannosaurus rex foi igualado ou mesmo superado como o maior dinossauro carnívoro conhecido. Mas isso não diminui a fama do T. rex. Como diz o velho ditado, “quem um dia foi rei, nunca perde a majestade”.

Matéria publicada em 06.03.2015

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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