Imagine um lugar onde a maioria das pessoas não sabia da importância de cuidar da natureza. Derrubar árvores para usar como lenha e caçar animais eram coisas comuns no dia a dia, até que um passarinho mudou o rumo da história. Esse lugar se chama Boa Nova, e o passarinho é o gravatazeiro.
Boa Nova fica no sudeste da Bahia. Não tem praias, mas possui uma natureza exuberante, formada pelo contato entre a Mata Atlântica e a Caatinga em um mesmo lugar, dando origem a uma vegetação muito especial, conhecida como mata-de-cipó.
Dentre as muitas espécies de plantas da mata-de-cipó estão as bromélias conhecidas como gravatás. Caminhar no meio dos gravatás é se machucar na certa, pois suas folhas são repletas de pequenos espinhos. Mas isso não é problema para o gravatazeiro, que vive exclusivamente onde essas plantas existem – daí o seu nome!
Os gravatazeiros fazem tudo no meio dos gravatás. É lá que capturam insetos e outros invertebrados para se alimentar, se escondem dos predadores, e até se reproduzem e constroem o ninho, onde a fêmea coloca dois ovos.
Esta espécie foi descoberta por Maximilian Alexander Philipp, o príncipe aventureiro de Wied-Neuwied, durante sua viagem pelo Brasil entre 1815 e 1817, e apresentada por ele em um livro de 1831. Ninguém sabe ao certo onde o príncipe encontrou o gravatazeiro, mas tudo indica que foi perto de Boa Nova – na época, chamada Boca do Mato –, enquanto seguia viagem para Salvador.
Hoje, os cientistas conhecem os gravatazeiros como Rhopornis ardesiacus. Em grego (Rhopornis) e latim (ardesiacus), o nome científico significa “ave dos arbustos, da cor de ardósia”.
Desde sua descoberta, a espécie nunca mais havia sido registrada por um pesquisador, até que o alemão Emil Kaempfer a encontrou em 1928. Nas décadas seguintes, novos registros foram feitos em Boa Nova e regiões próximas e, em 1981, veio o alerta vermelho: especialistas mostraram que o habitat dos gravatazeiros estava sendo rapidamente transformado em pastagens e plantações, e que essas aves corriam risco de desaparecer para sempre se nada fosse feito.
A solução demorou, mas apareceu. Em 2005, a Sociedade para Conservação das Aves do Brasil iniciou um plano de proteção aos gravatazeiros. Com sede em Boa Nova, onde é conhecido o maior número de indivíduos da espécie, o projeto tinha como objetivos não apenas pesquisar os hábitos desses pássaros, mas educar toda a comunidade da região sobre a importância da conservação da natureza.
De lá pra cá, boas novas! Graças ao esforço e à união de pesquisadores e moradores, o gravatazeiro passou a ser mascote da cidade. Virou time de futebol, letra de música e poesia, esculturas, pinturas, e muito mais. Várias áreas protegidas por lei foram criadas – elas ajudam não só na conservação dos gravatazeiros, mas também de outras espécies que vivem ali, protegem os mananciais de água e ainda são um grande atrativo para turistas.
O caso do gravatazeiro é um exemplo de como pesquisadores e sociedade devem interagir e criar vínculos, para juntos construírem uma nova história, onde a proteção da natureza tem destaque. Esperamos que este projeto inspire muitos outros pelo Brasil!