Acrobatas rupestres

Enquanto viajava pelo interior da Bahia em 1817, Maximilian, o príncipe aventureiro de Wied – hoje uma região da Alemanha –, tomou conhecimento da existência de um tipo de roedor até então desconhecido pelos pesquisadores, chamado pela população local de mocó. Assim que voltou para casa, o príncipe tratou de escrever sobre sua viagem ao Brasil e as muitas descobertas que fez, incluindo a primeira descrição técnica sobre esse curioso animal.

Os mocós são roedores, ou seja, parentes próximos dos preás, capivaras e ratos. Medem menos de 40 centímetros de comprimento e pesam até um quilo. Mocó é um nome de origem indígena. Alguns especialistas dizem que quer dizer “animal que rói”, enquanto outros afirmam que significa “dois”, porque eles sempre andariam em dupla – informação que, contudo, não é verdade. (foto: Vinícius São Pedro)

Os mocós são roedores, ou seja, parentes próximos dos preás, capivaras e ratos. Medem menos de 40 centímetros de comprimento e pesam até um quilo. Mocó é um nome de origem indígena. Alguns especialistas dizem que quer dizer “animal que rói”, enquanto outros afirmam que significa “dois”, porque eles sempre andariam em dupla – informação que, contudo, não é verdade. (foto: Vinícius São Pedro)

Hoje, a espécie é conhecida pelos cientistas como Kerodon rupestris. O nome Kerodon tem origem na língua grega e quer dizer “dente com chifre”, talvez porque, dependendo do ponto de vista, os dentes molares do mocó lembrem chifrezinhos. Já o significado do nome rupestris é fácil: essa palavra vem do latim, língua que deu origem ao português, e quer dizer “que vive nas rochas”. Habitar ambientes repletos de pedras, chamados afloramentos rochosos ou lajedos, é uma característica típica dos mocós.

Este é o tipo de ambiente onde os mocós vivem, chamado de afloramento rochoso. Os mocós se escondem em frestas de rochas e se alimentam principalmente de folhas e raízes. (foto: Henrique Caldeira Costa)

Este é o tipo de ambiente onde os mocós vivem, chamado de afloramento rochoso. Os mocós se escondem em frestas de rochas e se alimentam principalmente de folhas e raízes. (foto: Henrique Caldeira Costa)

Mas não é em qualquer tipo de lajedo que os mocós vivem. O Kerodon rupestris é encontrado no sertão do nordeste do Brasil e no norte de Minas Gerais. Se você mora nessa região, provavelmente já deve ter ouvido falar dele – ou melhor, pode ser até que tenha visto um!

Durante mais de 150 anos, a única espécie de mocó conhecida era Kerodon rupestris. Mas, na década de 1960, pesquisadores brasileiros encontraram mocós em afloramentos rochosos no estado de Goiás, região central do país. Anos depois, em 1997, eles foram oficialmente identificados como uma nova espécie, chamada Kerodon acrobata – seu nome se deve à habilidade com a qual esses mocós se movimentam em seu ambiente natural. Em 2010, a espécie também foi encontrada no sul do estado do Tocantins.

Os mocós têm o curioso costume de fazer cocô sempre no mesmo lugar, que os cientistas chamam de latrina. Com o tempo, a latrina vai ficando cheia de cocô, mas pelo menos não tem cheiro ruim! (foto: Henrique Caldeira Costa)

Os mocós têm o curioso costume de fazer cocô sempre no mesmo lugar, que os cientistas chamam de latrina. Com o tempo, a latrina vai ficando cheia de cocô, mas pelo menos não tem cheiro ruim! (foto: Henrique Caldeira Costa)

Infelizmente, tanto Kerodon rupestris quanto K. acrobata estão ameaçados de extinção. O principal motivo é a caça: muitas pessoas afirmam que a carne dos mocós é saborosa, e, por conta disso, eles são procurados como fonte de alimento. Nos últimos anos, os cientistas têm percebido que a caça aos mocós e a destruição de seu hábitat natural têm causado uma redução das populações desses bichos na natureza. Se nada for feito, essas espécies podem acabar desaparecendo. Precisamos mudar essa história!