Hoje, se você visitar um laboratório de pesquisas, poderá encontrar várias mulheres trabalhando em diversas áreas da ciência, mas nem sempre foi assim: no início do século 20, as mulheres que tinham o sonho de se tornarem cientistas precisavam enfrentar vários obstáculos. Com muita determinação, elas abriram caminho para que as garotas de hoje pudessem estudar e trabalhar com o que bem entendessem.
Uma dessas pioneiras foi a naturalista Bertha Lutz, que, além de trilhar sua carreira científica, participou ativamente das discussões políticas sobre os direitos femininos no Brasil. Que tal conhecer sua história?
Nascida em São Paulo em 1894, Bertha Maria Júlia Lutz era filha do microbiologista Adolpho Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler. Fez grande parte de seus estudos na Europa, onde se formou em Ciências Naturais pela Universidade de Paris – Sorbonne, em 1918. Depois de formada, foi morar no Rio de Janeiro, onde passou a maior parte de sua vida e se consagrou como cientista e líder feminista.
Em sua carreira como pesquisadora, um período importante foi o trabalho como botânica do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Nos anos que passou por lá, ela realizou várias expedições para coleta de plantas e flores do Brasil e até de outros países, como os Estados Unidos. Eram sua grande paixão! Bertha também desenvolveu atividades educativas especialmente voltadas às crianças, pois acreditava que todos deveriam ter acesso ao conhecimento.
Além do estudo das plantas, Bertha dedicou-se a pesquisas sobre os animais para ajudar seu pai, cientista do Instituto Oswaldo Cruz. Juntos, eles realizaram trabalhos importantes sobre sapos, rãs e pererecas, e Bertha continuou a se aprofundar nesse tema mesmo após a morte do pai.
Pelos direitos femininos
Mas a cientista não se destacou apenas pelos estudos que realizou. Também ficou famosa por sua dedicação na luta pelos direitos femininos, especialmente o direito ao voto, ao trabalho e à educação. Em 1919, fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, que mais tarde se transformou na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Além disso, escrevia artigos para revistas e jornais, argumentando sobre os direitos femininos.
Atuante também na política, Bertha contribuiu na elaboração da Constituição de 1934 e foi deputada federal. “Ela abriu caminhos para outras mulheres no campo da história natural, da museologia e no mundo público de uma maneira mais ampla”, conta a historiadora Lia Gomes Pinto de Sousa, da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz.
A missão, porém, não foi nada fácil. Na época em que prestou concurso para o Museu Nacional, por exemplo, enfrentou muitos preconceitos. Ela disputou com outros dez candidatos, todos homens, e sua participação no processo seletivo foi tema de polêmica na imprensa, pois ainda não era permitido que mulheres concorressem a essas vagas – imagine você que um dos candidatos desistiu porque considerava uma afronta concorrer com uma mulher!
Felizmente, Bertha conseguiu uma autorização especial e tornou-se a segunda mulher a ocupar um cargo público por meio de concurso no país – uma conquista muito importante para ela e para as outras mulheres também. “Quando eu fiz o concurso os jornais foram me perguntar se eu era feminista ou se trabalhava porque precisava. Eu respondi que não precisava, que trabalhava porque era feminista e achava que a mulher deve trabalhar como os homens, tem a mesma capacidade e os mesmos direitos”, disse Bertha em uma entrevista.
A cientista, que morreu em 1976, serviu de exemplo para muitas outras pesquisadoras que vieram depois dela. Hoje, as mulheres têm cada vez mais participação na ciência e em várias carreiras profissionais – que bom!