Cérebro na barriga

Não precisa ficar assustado. Os neurônios responsáveis pelo pensamento estão no mesmo lugar de sempre: o cérebro. Mas há outros neurônios, localizados no intestino, que também são bastante importantes. Eles funcionam como um “segundo cérebro” só para controlar a digestão dos alimentos e garantir que a comida siga o caminho certo por dentro de nosso corpo.

Os neurônios – que conhecemos por serem células do cérebro – também estão presentes no sistema digestório (Foto: Mark Miller / Flickr)

Os neurônios – que conhecemos por serem células do cérebro – também estão presentes no sistema digestório (Foto: Mark Miller / Flickr)

Toda vez que você enche a pança, mesmo além da conta, eles entram em ação. É o que explica a anatomista Patricia Castelucci, da Universidade de São Paulo. “Esses neurônios fazem parte de outro sistema nervoso, o entérico, e estão presentes no esôfago, no estômago e nos intestinos delgado e grosso”, conta a pesquisadora.

Os neurônios do intestino são responsáveis pela movimentação do músculo liso do nosso sistema digestório, conhecida como peristaltismo. Pequenas contrações fazem com que os alimentos sejam empurrados de órgão em órgão depois de engolidos, até o seu destino final – na privada. São elas também que fazem com que a comida saia pelo outro lado se algo estiver errado, ou seja, provocam o vômito.

Além dos movimentos, os neurônios do intestino ajudam o corpo a pegar dos alimentos as substâncias importantes. “Eles controlam a secreção de algumas glândulas e a absorção de nutrientes”, diz Patricia.

E os neurônios não estão sozinhos. Existem outras células trabalhando junto a esse sistema nervoso especial que são muito curiosas. São as células entereoendócrinas, que trabalham para reconhecer as substâncias químicas dos alimentos dentro do intestino.

As células enteroendócrinas trabalham reconhecendo os alimentos de forma parecida com o que fazem as células da língua para detectar os sabores (Foto: Steven Depolo / Flickr)

As células enteroendócrinas trabalham reconhecendo os alimentos de forma parecida com o que fazem as células da língua para detectar os sabores (Foto: Steven Depolo / Flickr)

Elas funcionam como uma espécie de paladar fora da língua. Do mesmo jeito que podemos saber só pelo gosto se um alimento está estragado ou não, essas células identificam o que está bom e o que está ruim para o corpo.

“Se ingerimos algo que possa nos fazer mal, por exemplo, essas células enviam esta informação para o sistema nervoso, que acelera o peristaltismo e aumenta a secreção, causando uma diarreia para eliminar o alimento ruim”, explica a histologista Gerly Brito, da Universidade Federal do Ceará.

Embora o funcionamento dessas células seja muito parecido com o das células da língua, que sentem o sabor do alimento, elas não têm essa capacidade. Ainda bem!