Cães e gatos: um assunto de cientista

Os peixes poderiam soltar bolhas de insatisfação com o resultado. Os pássaros, cabisbaixos, talvez decidissem fechar o bico. E os porquinhos-da-índia poderiam ameaçar voltar para a sua terra natal. Mas não tem jeito. Se a gente fizesse uma pesquisa para saber qual bicho de estimação toda criança queria ter, é certo que cães e gatos iriam aparecer nos primeiros lugares!


Nossos amigos de quatro patas, porém, também são populares entre os cientistas, sabia? Tanto é que estudos feitos por pesquisadores estrangeiros trazem novidades sobre o passado de cães e gatos. E que novidades!Veja o caso dos felinos: os antigos egípcios costumam ser apontados como os primeiros a domesticar os gatos — isso há cerca de quatro mil anos. Mas uma descoberta anunciada em abril por cientistas do Museu Nacional de História Natural de Paris indica que esses animais podem ter sido domesticados pelo menos cinco mil anos antes disso. E em outro lugar que não no Egito!

Os cientistas franceses trabalhavam, em 2001, em um sítio arqueológico localizado na cidade de Shillourokambos, na ilha de Chipre (sudeste da Europa), quando encontraram um esqueleto de gato com mais de 9.500 anos de idade. Ele estava enterrado a apenas 40 centímetros e à mesma profundidade do esqueleto de uma pessoa. Para os cientistas, isso era uma evidência de que já havia nessa época uma relação muito próxima entre gatos e homens.

A seta vermelha mostra o esqueleto de gato a 40 cm dos ossos humanos (na parte superior da foto), o que indica que eles foram enterrados juntos. (foto: P. Gérard)

O esqueleto do animal estava intacto e tão preservado quanto o humano, o que sugere, assim como as outras características, que ambos foram enterrados juntos. Os ossos do gato também não apresentavam sinais de violência, outra indicação de que havia uma forte relação entre ele e a pessoa com a qual foi enterrado. Sem falar que a análise da terra que existia ao redor do esqueleto mostrou que cova onde ele foi encontrado havia sido feita especialmente para abrigá-lo: ela foi cavada, o esqueleto posto dentro dela e, logo depois, ela foi coberta!

Porém, os cientistas não têm como dizer com certeza que tipo de relação existia entre o gato e a pessoa enterrada a menos de meio metro dele. Ele poderia ser um animal de estimação, ter algum significado religioso para ela ou mesmo ser um símbolo de prestígio e riqueza. Isso porque, no local onde foram achados os esqueletos, havia também pedras polidas, ferramentas, jóias e outros objetos que, para os cientistas, são ricas oferendas. Elas indicam que a pessoa enterrada tinha posição de destaque na sociedade da época.

Os pesquisadores, no entanto, têm uma certeza: a descoberta do esqueleto do gato e do humano indica que, por volta de 9.500 anos atrás, já havia se desenvolvido uma forte relação entre gatos e humanos. Esses felinos devem ter sido trazidos pelos fazendeiros que habitaram a ilha de Chipre entre dez mil e sete mil anos atrás. Vindos, provavelmente, da Turquia, eles devem ter levados os gatos para caçar ratos que atacavam as plantações.

Bom, isso é o que os cientistas têm a nos contar sobre os gatos. E sobre o “melhor amigo do homem”? Quais serão as novidades? Isso é o que você vai descobrir nesta série de textos sobre a ciência dos bichos de estimação!